O Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil, se consolidou como uma das maiores inovações financeiras do mundo — e agora virou alvo de atrito com os Estados Unidos. A Casa Branca, sob a liderança de Donald Trump, anunciou uma investigação formal sobre supostas “práticas comerciais desleais”, mencionando diretamente o sistema brasileiro.
A decisão foi motivada pela perda de espaço de empresas norte-americanas, especialmente do setor de pagamentos digitais, diante do sucesso do Pix no Brasil. Em 2024, o sistema registrou 63,8 bilhões de operações, superando todos os outros meios de pagamento somados — incluindo cartões de crédito e débito, TEDs, boletos e cheques.
Trump reage: Pix vai para lista de práticas “desleais”
A ofensiva dos EUA ocorre com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que autoriza o governo a retaliar práticas comerciais consideradas prejudiciais aos interesses americanos. Segundo comunicado oficial, o Pix “parece adotar práticas que favorecem serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”, o que, para Washington, impacta a competitividade de empresas privadas dos EUA.
“Sob a orientação do presidente Trump, estou iniciando uma investigação nos termos da Seção 301 sobre os ataques do Brasil às empresas americanas de mídia social, bem como outras práticas comerciais desleais”, declarou Jamieson Greer, Representante de Comércio dos EUA.
O motivo real: ameaça ao domínio financeiro americano
Segundo especialistas, a principal motivação por trás da investigação não é técnica, mas estratégica. O sucesso do Pix incomoda diretamente empresas como Visa, Mastercard, bancos tradicionais e big techs como o WhatsApp, que tentaram emplacar seus próprios sistemas de pagamento no Brasil sem o mesmo sucesso.
“O WhatsApp Pay não decolou porque o Pix já estava estabelecido. Isso contrariou interesses americanos”, explica Carla Beni, economista da FGV.
A expansão do Pix, especialmente com o lançamento do Pix Parcelado em setembro, deve acirrar ainda mais a disputa. A nova funcionalidade permitirá parcelamento de compras com crédito, atraindo os 60 milhões de brasileiros sem cartão de crédito e até mesmo quem já o possui, devido aos altos juros do setor bancário.
Governo Lula reage: “O Pix não se negocia”
Para o governo brasileiro, o Pix é um patrimônio nacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deixou claro que a ferramenta está fora de qualquer negociação internacional, dada sua aceitação massiva entre os brasileiros e seu papel como instrumento de inclusão financeira.
“Mexer com o Pix tem mais custo político do que ter sido contra a vacina”, disse um interlocutor do governo, em referência à ampla popularidade do sistema.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também rebateu as acusações americanas, reforçando que o Pix não é um produto comercial, mas uma infraestrutura pública, aberta e não discriminatória, acessível a bancos, fintechs e instituições internacionais.