Os Estados Unidos ampliaram sua campanha militar contra o narcotráfico nesta quarta-feira (22), com dois novos ataques a embarcações no Oceano Pacífico, resultando na morte de cinco pessoas, segundo o Departamento de Defesa. As ações, ordenadas diretamente pelo presidente Donald Trump, marcam a primeira vez que os bombardeios ocorrem fora do Caribe e acendem o alerta entre aliados e organismos internacionais.
De acordo com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, os alvos eram barcos “operados por organizações terroristas designadas”, supostamente envolvidos no transporte de drogas em águas internacionais próximas à costa da Colômbia. Vídeos divulgados pelo próprio Hegseth nas redes sociais mostram mísseis atingindo pequenas embarcações, que explodem e pegam fogo em seguida.
Com esses novos bombardeios, já são nove ataques desde 2 de setembro, somando 37 mortos. Até o momento, o governo americano não apresentou provas concretas de que as embarcações transportavam drogas ou tinham ligação com grupos armados.
Durante encontro com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, na Casa Branca, Trump afirmou que não precisa de autorização do Congresso para ordenar ataques em águas internacionais. “Temos permissão para fazer isso. Se decidirmos agir por terra, poderemos ir ao Congresso — mas não é necessário”, declarou o presidente.
Trump insinuou ainda que ataques terrestres podem estar próximos. “Algo muito sério vai acontecer, equivalente ao que estamos fazendo por mar”, disse. Ao seu lado, o secretário de Estado Marco Rubio endossou a ofensiva: “Se querem que os barcos parem de explodir, parem de enviar drogas aos Estados Unidos.”
As declarações reforçam a escalada de um conflito que, segundo um memorando interno vazado, o governo americano classifica como um “conflito armado não internacional” contra organizações de narcotráfico na América Latina.
Críticas e preocupações internacionais
As ações têm gerado forte reação dentro e fora dos EUA. Três especialistas da ONU enviaram uma carta denunciando as operações como violações do direito internacional, afirmando que o uso de força letal em águas internacionais “configura execução extrajudicial” e não pode ser justificado como autodefesa.
Especialistas em direito internacional também apontam que a Constituição americana atribui ao Congresso a prerrogativa de autorizar o uso da força militar, e não ao presidente. “Trump está expandindo o conceito de terrorismo para justificar ataques sem respaldo legal”, afirmou Brian Finucane, pesquisador do International Crisis Group.
Nos bastidores diplomáticos, o clima é de apreensão. O governo da Colômbia, liderado por Gustavo Petro, protestou contra as ações, após um dos ataques atingir um barco próximo ao litoral do país. Trump respondeu com tom ameaçador: “É melhor ele tomar cuidado, ou tomaremos medidas muito sérias contra ele e seu país.”
Escalada sem precedentes
Os ataques marcam uma mudança estratégica significativa na política antidrogas dos EUA, tradicionalmente conduzida pela Guarda Costeira e não pelas Forças Armadas. Desde agosto, Washington vem reforçando sua presença militar na região, com destróieres, caças F-35 e um submarino nuclear no Caribe.
A campanha de Trump tem sido justificada como parte de uma “guerra total” contra os chamados “narcoterroristas”, mas a ausência de transparência e as mortes civis relatadas levantam temores de um novo ciclo de intervenções unilaterais americanas na América Latina.