O presidente executivo das Coopératives U, a quarta maior rede de supermercados da França, anunciou nesta terça-feira (16) que pretende boicotar produtos do Mercosul, incluindo os brasileiros, se o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o bloco sul-americano for ratificado. A declaração amplia a pressão francesa contra o tratado, que está prestes a ser assinado pela Comissão Europeia.
Em entrevista à rede de rádio e televisão RMC/BFMTV, o CEO das Coopératives U, Dominique Schelcher, foi direto ao afirmar que a rede não pretende comercializar produtos sul-americanos.
“Não compraremos esses produtos se eles chegarem à França”, declarou. Em seguida, reforçou: “Não vamos comprar produtos da América do Sul se houver equivalentes franceses no mercado”.
A Coopératives U é o quarto maior grupo de distribuição da França e tem forte influência sobre cadeias de abastecimento e consumo no país, o que confere peso político e econômico à decisão anunciada.
Acordo UE–Mercosul divide Europa
O posicionamento da rede francesa surge em um momento decisivo para o tratado, negociado há mais de duas décadas entre a UE e os países do Mercosul — Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O acordo prevê a ampliação das exportações sul-americanas de produtos como carne, arroz, mel e soja, em troca da entrada facilitada de veículos e máquinas europeias nos mercados do bloco.
A França pressiona para adiar a votação do acordo, prevista para esta semana no Conselho da União Europeia, para 2026. A assinatura poderia ocorrer durante a cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, no Brasil.
Na segunda-feira (15), o presidente francês Emmanuel Macron voltou a manifestar oposição ao acordo, afirmando que, “no momento, ele não protege os agricultores franceses”, segundo pessoas próximas ao Palácio do Eliseu.
Pressão política e protestos no campo
A resistência ao acordo não se limita ao governo. A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, cobrou uma postura mais dura do presidente. “Está em jogo a sobrevivência da nossa agricultura e, portanto, a soberania do país”, declarou, ao pedir que Macron rejeite definitivamente o tratado.
O governo francês também enfrenta novos protestos de agricultores, insatisfeitos com políticas sanitárias e temerosos de perder competitividade com a entrada de produtos sul-americanos no mercado europeu.




