Entre pinheiros, dunas e praias quase desertas no sudoeste de Portugal, ergue-se um novo paraíso do turismo de luxo. Comporta, outrora uma vila rural tranquila, está sendo transformada em um dos destinos mais cobiçados da Europa — apelidado por muitos de “a nova Ibiza” ou “a Riviera portuguesa”.
A apenas uma hora de Lisboa, a região se consolidou como um dos cinco mercados imobiliários de luxo mais procurados do mundo, segundo ranking recente da consultoria internacional Knight Frank. O local encanta por sua combinação de simplicidade, exclusividade e contato com a natureza, atraindo celebridades, bilionários e membros da realeza.
Entre os nomes que já se renderam ao charme de Comporta estão a atriz Nicole Kidman e a princesa Carolina de Mônaco. A princesa Eugenie, sobrinha do rei Charles III do Reino Unido, também é presença frequente. Em entrevista ao podcast Table and Manners, ela contou que vive parte do tempo em Portugal justamente pela liberdade que a região oferece:
“Posso ir ao supermercado de roupa esportiva, com o cabelo despenteado, e ninguém se importa.”
O primeiro a colocar Comporta no mapa do luxo internacional foi o estilista Christian Louboutin, famoso pelos sapatos de sola vermelha. Ele inaugurou o Vermelho Hotel, em Melides, uma charmosa aldeia de ruas estreitas, casas brancas e janelas azuis — símbolo do conceito de “luxo descontraído” que hoje define o destino.
Expansão acelerada e preocupações ambientais
Mas por trás do glamour, há também controvérsias. A ONG Dunas Livres alerta para os riscos ambientais provocados pela explosão de investimentos. Segundo a bióloga Rebeca Mateus, já foram mapeados oito megaprojetos, cada um ocupando centenas de hectares.
As obras envolvem campos de golfe, hotéis cinco estrelas e centenas de vilas privadas, o que pode gerar alto consumo de água em uma região frequentemente atingida pela seca. “Há risco de danos irreversíveis nas dunas, um habitat frágil e de lenta regeneração”, afirma Catarina Rosa, também da organização.
Da falência ao boom imobiliário
A transformação da região começou após o colapso do Banco Espírito Santo, em 2014. A tradicional família portuguesa, então proprietária da imensa Herdade da Comporta — com mais de 12 mil hectares —, foi obrigada a vender suas terras. Grandes grupos empresariais, como Amorim, Vanguard Properties e a americana Discovery Land Company, aproveitaram a oportunidade e investiram pesado.
Um dos principais empreendimentos é o Costa Terra Golf and Ocean Club, com cerca de 300 residências de luxo voltadas para o mercado internacional.
O sucesso repentino de Comporta gerou consequências diretas para os moradores. O preço dos imóveis disparou:
“Uma pequena casa que valia 20 mil euros há vinte anos hoje custa um milhão”, relata Jacinto Ventura, agricultor e líder comunitário em Melides.
Além da valorização excessiva, os residentes reclamam da dificuldade de acesso às praias, oficialmente públicas, e do aumento do custo de vida.
Mesmo assim, há quem tente resistir ao avanço da especulação. Belinda Sobral, ex-engenheira de 42 anos, reabriu a taberna dos avós para preservar as tradições locais.
“O turismo não é o problema — o problema é como ele está sendo feito: rápido demais, sem plano nem respeito pelas pessoas daqui”, lamenta.




