Desde o início da pandemia, as vacinas contra a COVID-19 foram fundamentais para reduzir os casos graves da doença. No entanto, com a emergência constante de novas variantes do SARS-CoV-2, a eficácia desses imunizantes vem sendo colocada à prova. É o que aponta um artigo publicado na revista Pathogens por pesquisadores do Institut Pasteur de São Paulo (IPSP) e do Instituto Butantan.
A revisão é coordenada pelo professor Sergio Costa Oliveira, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, e liderada pelo pós-doutorando Fábio Mambelli. Segundo os cientistas, as vacinas atuais ainda oferecem proteção contra as variantes em circulação, mas novas soluções são necessárias diante da capacidade de adaptação do vírus.
Proteína spike: um alvo que precisa mudar
A maioria das vacinas atuais tem como base a proteína spike do coronavírus. No entanto, essa estratégia enfrenta limitações. A variante ômicron, por exemplo, apresentou mais de 30 mutações na spike, o que facilitou o escape do sistema imunológico. Subvariantes como BA.2, BA.4, BA.5 e XBB seguem acumulando alterações que comprometem a eficácia dos imunizantes, mesmo após doses de reforço.
De acordo com o estudo, vacinas que incorporem outros alvos, como a proteína nucleocapsídeo (N), que é mais estável e menos propensa a mutações, podem gerar uma resposta imunológica mais robusta e duradoura.

A aposta em uma BCG modificada
Uma das propostas mais promissoras em estudo é o uso da vacina BCG — tradicionalmente utilizada contra a tuberculose — como plataforma para o desenvolvimento de um novo imunizante contra a COVID-19. A BCG foi geneticamente modificada para expressar uma proteína quimérica que combina elementos da spike e da nucleocapsídeo do SARS-CoV-2.
Nos testes com camundongos, realizados em laboratórios de biossegurança nível 3, a vacina demonstrou uma proteção robusta, com ausência de infecção nos pulmões dos animais. Além de estimular anticorpos neutralizantes, ela também ativa a resposta imune celular, considerada essencial para conter o vírus.
Vacinas intranasais e novas estratégias
O estudo também destaca o potencial das vacinas administradas por via intranasal, que podem oferecer uma defesa mais eficaz por atuarem diretamente nas vias respiratórias, principal porta de entrada do coronavírus. A combinação dessa via de aplicação com antígenos mais estáveis, como a proteína N, pode ampliar a proteção e reduzir a necessidade de reformulações frequentes.
A vacina baseada na BCG ainda está em fase de otimização técnica. Os próximos passos incluem novos testes com foco na eficácia contra variantes recentes do SARS-CoV-2. Segundo os pesquisadores, o desenvolvimento de vacinas mais abrangentes é fundamental, especialmente para proteger grupos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos, cuja resposta imunológica é naturalmente mais frágil.