Negociar dívidas com bancos costuma parecer um caminho sem saída. Porém, um documento pouco conhecido pode mudar completamente o jogo e permitir descontos de até 90% no valor total do débito. É o chamado Documento Descritivo de Evolução da Dívida (DED ou DDC), previsto no Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, inciso III) e na Resolução CMN nº 5.004/2022.
O advogado Eduardo Valcarenghi, especialista em direito bancário, explica que o demonstrativo obriga o banco a detalhar toda a história da dívida: valor original, juros cobrados, multas, pagamentos realizados e saldo devedor. “Com esse documento, o cliente ganha poder de negociação. Em muitos casos, os bancos preferem oferecer acordos antes mesmo de entregar o relatório”, afirma.
Como solicitar o documento
O DDC pode ser requerido diretamente ao banco, pelo internet banking, SAC ou presencialmente. A instituição tem até um dia útil para entregar o relatório completo. Caso não cumpra o prazo, o consumidor pode recorrer ao Banco Central, solicitando o Relatório de Empréstimos e Financiamentos (SCR) via sistema Registrato.
Se mesmo assim não houver retorno, a recomendação é registrar queixa no consumidor.gov.br ou no próprio Banco Central. Em muitos casos, segundo Valcarenghi, só o pedido formal já acelera a oferta de descontos para evitar problemas jurídicos.
Por que o banco cede?
Há dois fatores que favorecem o consumidor. Primeiro, muitos bancos não conseguem apresentar o documento completo e, para evitar questionamentos legais, acabam cedendo na negociação. Segundo, quando o relatório é fornecido, ele geralmente revela juros abusivos ou cobranças irregulares, o que abre espaço para contestação judicial.
“É uma arma poderosa. O cliente sai da posição de fragilidade e passa a ter argumentos concretos contra a instituição financeira”, ressalta o advogado.
Endividamento em alta
A estratégia surge em um momento de forte crescimento da inadimplência. Dados da Serasa Experian mostram que, em dezembro de 2024, 6,9 milhões de empresas brasileiras estavam com dívidas em atraso, principalmente de natureza fiscal. Entre pessoas físicas, o perfil da inadimplência também mudou: a Geração Z lidera as renegociações.
Entre janeiro e julho de 2025, mais de 1,5 milhão de jovens entre 18 e 25 anos renegociaram dívidas pelo Serasa Limpa Nome, aumento de 49% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, entre consumidores acima de 65 anos, houve queda de 4,7% nas renegociações.
