Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou que R$ 48,7 milhões destinados à compra de respiradores pulmonares, no ano de 2020, pelo Consórcio Nordeste, foram desviados por meio de sucessivas transferências bancárias. Os equipamentos eram fundamentais para o tratamento do COVID-19 no auge da pandemia, mas nunca foram entregues.
A operação mirou as empresas e pessoas físicas que estavam usando o dinheiro público para gastos pessoais, tais como compra de veículos de luxo, pagamento de faturas de cartão de crédito e mensalidades escolares.
Operação Cianose e apurações em andamento
À época, o Consórcio era presidido por Rui Costa, então governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil. A empresa contratada para o consórcio, a Hempcare, especializada em medicamentos à base de cannabis e sem experiência na venda de ventiladores médicos, recebeu o pagamento integral antecipadamente.
Segundo a PF, a Hempcare teria transferido os valores para terceiros sem qualquer relação com a compra dos respiradores. Entre os bens adquiridos com os recursos públicos estão um véiculo SUV Volkswagen Touareg, um caminhão Mercedes-Benz Accelo e um Mitsubishi ASX.
O esquema é investigado no âmbito da Operação Cianose, que teve sua segunda fase deflagrada em agosto de 2024. Foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão e sequestro de bens na Bahia, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Os delitos apurados envolvem crimes licitatórios, desvio de recursos públicos, lavagem de capitais e organização criminosa.
Justiça e alegações de fraude
Em acordo de delação premiada, Cristiana Taddeo, dona da Hempcare, afirmou que os empresários ligados ao atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, estariam envolvidos nesse esquema e devolveu os R$ 10 milhões recebidos durante a negociação. O restante do dinheiro teria sido redistribuído entre os outros investigados. Rui Costa não se manifestou sobre a operação até o presente momento.
Apesar de afirmar que foi vítima de fraude, o Consórcio Nordeste é alvo de críticas, sobretudo pela liberação integral dos recursos sem garantias. O inquérito segue em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ).