Um estudo publicado na prestigiada revista científica Cell Reports em 2022 revelou algo que parece saído de um filme de ficção, mas é real: cada pessoa pode ter um “sósia” genético em algum lugar do mundo.
Segundo os pesquisadores, indivíduos que se parecem fisicamente, mesmo sem qualquer grau de parentesco, podem ter semelhanças genéticas significativas, o que ajuda a explicar não apenas traços faciais semelhantes, mas também hábitos e comportamentos parecidos.
A pesquisa foi liderada por Manel Esteller, do Instituto Josep Carreras de Pesquisa em Leucemia, em Barcelona. O cientista, conhecido por seus estudos sobre gêmeos idênticos, decidiu explorar um novo tipo de semelhança humana: a de pessoas que parecem ter sido “clonadas” pela natureza, mas sem laços familiares.
Para isso, Esteller buscou inspiração na arte. Ele e sua equipe analisaram 32 pares de “sósias” participantes do projeto fotográfico “Não sou dublê!”, criado pelo artista canadense François Brunelle, que há décadas fotografa pessoas com aparência idêntica, mas sem parentesco.
Os pesquisadores pediram que os participantes realizassem testes de DNA e responderam a questionários sobre estilo de vida e hábitos. As imagens também foram avaliadas por três programas de reconhecimento facial para medir o grau de semelhança.
DNA de “gêmeos genéticos”
O resultado surpreendeu: 16 pares de participantes obtiveram pontuações de semelhança facial equivalentes às de gêmeos idênticos, de acordo com o software de reconhecimento. Quando o DNA desses pares foi analisado, os cientistas descobriram que eles compartilhavam diversas variantes genéticas, responsáveis por características como formato do nariz, olhos, boca, lábios e estrutura óssea.
“Conseguimos ver que esses humanos parecidos compartilham várias variantes genéticas muito comuns entre eles”, explicou Esteller à CNN.
Segundo o pesquisador, esses “códigos semelhantes” surgem por acaso, resultado da enorme diversidade genética humana.
“Com tanta gente no mundo, o sistema acaba produzindo humanos com sequências de DNA muito parecidas. E agora, com a internet, é mais fácil encontrá-los”, afirmou.
Além da aparência: genes e comportamento
Os cientistas foram além da análise física. Ao comparar os hábitos dos “sósias”, observaram semelhanças de estilo de vida, como peso corporal, nível de educação e até o uso de tabaco. Isso indica que a genética pode influenciar não apenas a aparência, mas também certos padrões de comportamento.
No entanto, quando os pesquisadores examinaram outros fatores — como epigenética e microbioma —, as diferenças se tornaram evidentes. A epigenética estuda como o ambiente e os hábitos modificam a forma como os genes se expressam, e o microbioma diz respeito aos microrganismos que vivem no corpo humano. Esses elementos mostraram que, apesar da semelhança física e genética, cada indivíduo permanece único.
Limitações e próximos passos
O estudo, embora inovador, ainda tem limitações. A amostra foi pequena — apenas 32 pares — e composta majoritariamente por pessoas de origem europeia. Isso significa que os resultados podem variar em populações de outras regiões do mundo.
Mesmo assim, especialistas consideram a pesquisa um marco científico, que pode ajudar a compreender não apenas o papel da genética na formação dos rostos humanos, mas também traços de personalidade e saúde.
A geneticista Karen Gripp, da Nemours Children’s Health, que não participou do estudo, destacou à CNN:
“Esses resultados validam muitas pesquisas anteriores e oferecem uma nova perspectiva sobre a influência da genética na aparência humana.”