O Corvo (XXIV)

25 de maio de 2019 às 0h01

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Crédito: Divulgação

Marco Guimarães *

Natalie trancou a porta, ligou o computador recém-instalado em sua sala, e, enquanto o sistema inicializava, pensou no relato que o policial lhe fizera, quando disse que não havia nada de especial nas análises do laboratório. — Nada de especial uma ova, — disse para si mesma — repetirei, mais uma vez, o que já disse: a resposta para esse mistério está na Rue Pascal.

Uma vez que a tela do computador mostrava os programas, ela digitou a senha da intranet e acessou o banco de dados do laboratório. Começou a ver as imagens em câmera lenta, take a take. Súbito, algo nas filmagens chamou-lhe a atenção: um corvo, que voava em sentido oposto ao trajeto feito pela menina e sua sequestradora. O corvo aparecera alguns minutos após a câmera do hotel deixar de mostrar as imagens das duas. O curioso é que havia registro do voo do corvo, em movimento de ida e vinda na Rue Pascal, até o desaparecimento do capitão Maurel. As últimas imagens mostravam o capitão descendo a Rue Pascal, e o corvo acompanhando-o.

A interpretação das imagens realizada pelo laboratório, e descrita pelo policial como “nada de especial”, deixara passar algo. — Não é possível, como não viram isso? — pensou Natalie. Bem, talvez tenham se fixado tanto nas pessoas que não se deram conta da ave, concluiu ela, tentando justificar a falha do pessoal do laboratório.

Levantou-se, foi à larga janela de sua sala e tocou no vidro com a intenção de chamar a atenção do policial que ajudava no caso do sequestro e do desaparecimento do capitão Maurel. Com um movimento das mãos chamou-o a sua sala.

— Entre, quero que você veja uma coisa — disse ela para o policial, que logo se posicionou a seu lado.
Natalie, então, mostrou-lhe a imagem do corvo, ignorada nas análises que o laboratório havia feito.
— A Sra. tem razão, tenente. É mesmo muito estranho.
— Pois é, agora temos três pessoas desaparecidas, que estão sabe-se lá onde, e, ao que tudo indica, o aparecimento de uma ave, vinda sabe-se lá também de onde, que depois também some.
— Mais um fator para complicar o caso, não é mesmo, tenente? Um verdadeiro quebra-cabeça.
— Talvez não, talvez não, pode ser que a solução para este quebra-cabeça tenha alguma coisa a ver com o corvo.
— Você conseguiu falar com a esposa do capitão?
— Não, ainda não.
A conversa entre os dois é interrompida por outro policial do distrito, que diz haver uma pessoa ao telefone querendo falar com o capitão Maurel. A tenente pede a ele que transfira a ligação.
— Pois não, aqui fala a tenente Natalie, o capitão não está. Posso ajudá-la?
— Bem, eu me chamo Annick e sou amiga de Virgínia, esposa do Maurel. Ela está de mudança aqui para a Borgonha, onde moro, e deveria ter chegado a minha casa há dois dias. Tenho telefonado com insistência, mas cai na caixa postal. Estou preocupada! Pensei que o capitão poderia ter alguma notícia.

Natalie pediu o telefone de Annick e lhe disse que, assim que tivesse notícias, a avisaria. Pediu-lhe também que, caso Virgínia aparecesse por lá, ligasse imediatamente para o distrito ou para seu celular.

*Escritor. Autor dos livros “Fantasmas de um escritor em Paris”, “Meu pseudônimo e eu”, “O estranho espelho do Quartier Latin”, “A bicha e a fila”, “O corvo”, “O portal” e “A escolha”

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