Ouro Negro
Minas terá a maior produção de biochar da América Latina
Planta da empresa NetZero Brasil adota iniciativa pioneira de transformar a palha do café em bioinsumo; entenda mais na reportagem!
20 de abril de 2023

A cidade de Lajinha, na região das Matas de Minas, no Leste do Estado, ganha, nesta quinta-feira, a primeira planta de produção de biochar em alta escala da América Latina. A indústria vai produzir o bioinsumo – rico em carbono e que, após passar pelo processo de pirólise, pode reduzir o uso de fertilizantes – a partir da palha do café. A tecnologia é um imperativo tanto climático, quanto econômico para as culturas de café, que cada vez mais buscam a sustentabilidade em Minas.
Com investimentos da ordem de R$ 20 milhões em menos de seis meses de implantação, a fábrica de 15 mil m² de área construída, sendo 9 mil m² somente de estocagem, é uma aposta da startup francesa NetZero. A empresa, fundada há dois anos, atua no combate das alterações climáticas e também trabalha na missão de trazer ao mercado agrícola soluções que unam sustentabilidade e produtividade rural.
O biochar é um carvão de estrutura esponjosa, extraído da biomassa renovável, e que possui duas propriedades. Uma delas é a de estabilidade do solo, conforme explica o co-fundador da NetZero Brasil, Pedro Figueiredo.

“O biochar precisa ter uma relação de hidrogênio e carbono menor que 0,7%. Com isso, ele vai ficar estável no solo por centenas e centenas de anos”, explica o executivo, com base em estudos realizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
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Ele destaca que outra característica importante do biochar é que ele possui uma superfície interna vazia. “Esse vazio em sua parte interna é muito grande e o que dá a propriedade de reter água e nutrientes que são oferecidos às plantas na época de déficit hídrico. Também por essa propriedade, favorece a redução de 33% no uso de fertilizantes e, mesmo em tempo de seca, mantém sempre o solo hidratado”, explica.
Expansão do negócio deve ocorrer ainda neste ano
Por se tratar de um produto que é uma das poucas soluções climáticas no cenário global para o desenvolvimento do campo, a abertura de uma segunda fábrica da NetZero é prevista ainda para este ano. A cidade de Brejetuba, no Espírito Santo, também forte produtor de café, vai abrigar a nova instalação.
Relativamente próximas, a unidade de Lajinha, assim como a de Brejetuba, atenderão produtores dentro de um raio de 20 a 30 km, numa parceria firmada com a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé). À frente da cooperativa, o diretor de Produção e Comercialização, Pedro Araújo explica que a entidade atua em 90 cidades, entre mineiras e capixabas, com forte chance de expansão da NetZero.
“Por conta de uma logística, devido aos relevos da geografia regional, a unidade da NetZero vai trabalhar dentro deste limite territorial específico. Com isso, cedemos o terreno onde a planta vai começar a operar e estamos muito confiantes na viabilidade sustentável e econômica do projeto”, diz o representante da Coocafé.
De um total de 10 mil cafeicultores em toda a região das Matas de Minas, especificamente para a planta de Lajinha, a parceria entre NetZero e Coocafé já conta com a adesão de 380 produtores da cidade e de municípios vizinhos. Desta forma, todos os cafeicultores, em sua grande maioria de produção familiar, vão destinar a palha do café, antes sem utilidade, para o processo de transformação industrial.
“A pirólise seria o sequestro de carbono, onde a nossa matéria-prima passa por um processo de carbonização. A palha do café passa por uma conversão térmica, com limitação de oxigênio, até chegar a seu resultado que lembra um carvão e que, após o processo de transformação, precisa chegar a 11% de umidade”, conta o empresário francês e co-fundador da NetZero, Oliver Reinaud.
Resíduo agrícola com alto valor agregado
Em suma, a cada 1,4 kg de átomo de carbono (CO2) por kg de café verde, haverá a redução de 40% nas emissões totais. De acordo com Pedro Figueiredo, o biochar pode diminuir em 40% a pegada de carbono da produção de café. “Não existe outra tecnologia no mundo que consiga superar esses níveis de diminuição”, diz. Mas, se o biochar é uma grande novidade sustentável no mercado rural, por que a indústria não investe no produto?
O executivo pontua que se trata de um investimento em que o custo operacional é elevado. “O nosso objetivo é produzir em escala industrial para atender ao propósito de uma missão sustentável. Então, nós focamos no tratamento de um resíduo agrícola vindo da lavoura de café. E, um detalhe importante, é que não há uso algum de madeira no processo, pois se usar uma floresta para produzir biochar estarei desbalanceando o meio ambiente”, explica.

Capacidade produtiva da NetZero
Dos 6,6 mil hectares pertencentes aos cafeicultores cadastrados de Lajinha e região, a NetZero pode produzir 5 mil toneladas de biochar por hectare. No entanto, Pedro Figueiredo revela: “Nós estimamos que a nossa capacidade será na margem de 16 mil toneladas de biochar ao ano. Porém, construímos uma planta que possui uma capacidade bem maior que isso”, garante.
(*) o repórter viajou a convite da NetZero.

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