A China autorizou a retomada imediata das exportações de carne bovina do Brasil. O fim do embargo, que foi iniciado em 4 de setembro, foi comemorado pelo setor produtivo de Minas Gerais. A medida de restrição referente aos embarques de carne bovina para o país asiático ocorreu após a identificação de casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), doença também conhecida como “vaca louca”, em Minas Gerais e outro no Mato Grosso.
A decisão, anunciada ontem pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), autoriza a retomada das exportações dos produtos de carne bovina desossada com menos de 30 meses e com certificação emitida a partir de 15 de dezembro.
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Sem os embarques, o setor produtivo de Minas Gerais e do País estava apreensivo, uma vez que a China é o principal comprador. Os chineses já haviam autorizado a entrada das cargas brasileiras enviadas antes da determinação do embargo, estimadas em mais de 100 mil toneladas.
O presidente do Sistema Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), Antônio de Salvo, comentou a liberação e ressaltou que a reabertura do mercado é importante para que os pecuaristas continuem produzindo com segurança e mantendo os investimentos na melhoria do rebanho.
“É uma ótima notícia. O setor se tranquiliza novamente e pode voltar a ter uma vida normal. Os preços já estavam em recuperação, mas com a entrada da safra do boi gordo de pasto, entre o final de dezembro e o começo de janeiro, os produtores estavam inseguros quanto aos patamares de preço para a arroba. Com a reabertura do mercado chinês, que corresponde a praticamente metade de nossas exportações, o produtor volta a ter tranquilidade para continuar produzindo e melhorando geneticamente seu gado, com garantia mais consistente de bons preços já neste início de nova safra”, disse.
O secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, José Guilherme Leal, explicou que, a partir de agora, os embarques voltam ao ritmo normal, o que é importante para o setor produtivo de todo o País.
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“A notícia é que retomamos o fluxo normal de exportação de carne bovina para a China, após um longo período de negociações. As negociações foram bastantes técnicas, envolvendo uma série de trocas de informações e reuniões. Já tínhamos concluído e entregue, há um mês, as últimas informações necessárias. Por isso, esperávamos que houvesse solução da situação. É uma boa notícia para o setor, já que é o principal destino da carne bovina do Brasil”, destacou.
A estimativa do Mapa é de que, em termos de impacto nas exportações, os mesmos sejam mínimos.
“O Brasil exportou, em carne bovina, US$ 8 bilhões em 2020, sendo US$ 4 bilhões para a China. Se houver diferença no resultado total de 2021, não chegará a 2%. Foi visto impacto nos embarques mês a mês, mas neste ano não vamos ter impactos relevantes, porque a carne produzida no período foi destinada a outros mercados, como para os Estados Unidos”, disse o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Orlando Leite Ribeiro.
Impactos em Minas
O vice-presidente de Secretaria do Sistema Faemg, Weber Bernardes, explica que a retomada das exportações para a China é importante para o mercado de Minas Gerais. Durante o período de embargo, foi registrada grande oscilação nos preços da arroba, que chegaram a cair de R$ 310 a R$ 315 para R$ 245 a R$ 250. Com os custos em alta, principalmente os ligados à alimentação, como o milho e a soja, a arroba cotada abaixo de R$ 310 é prejuízo para o pecuarista. Hoje, a arroba está avaliada em torno de R$ 295.
“O produtor rural mineiro recebe a notícia com muito bom grado. Ficamos quase quatro meses sem vender para o mercado chinês. Cerca de 50% das nossas exportações são para o país asiático. Com o embargo, neste período, houve um achatamento dos preços pagos ao produtor rural. Isso trouxe preocupações e prejuízos”.
Ainda segundo Bernardes, com a reabertura do mercado da China, a expectativa é de retomada das exportações e recuperação dos preços pagos pela arroba.
“Os custos de produção estão muito altos devido ao aumento dos preços do milho e da soja. Além disso, os fertilizantes e outros insumos também tiveram preços reajustados. Esperamos, com a retomada, que a arroba possa ter recuperação e que tenhamos firmeza no mercado. Quando o mercado oscila muito, gera insegurança no produtor”, disse Bernardes.
Em nota, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) explicou, com base nos dados consolidados do Ministério da Economia referentes à exportação mineira de carne bovina, que, no acumulado do ano, de janeiro a novembro, o Estado exportou para 69 países.
“A China manteve a liderança, e a receita com os embarques para o país cresceu 10% em comparação ao mesmo período no ano passado, atingindo US$ 480 milhões. As compras aquecidas do país asiático nos primeiros meses de 2021 ajudaram a manter o resultado positivo do acumulado do ano, apesar do embargo em vigor em setembro, outubro e novembro”.
Tarifas para suínos serão elevadas
Pequim – A China aumentará as tarifas de importação sobre a maioria dos produtos de carne suína no próximo ano, disse o Ministério das Finanças ontem, depois que o maior produtor mundial rapidamente expandiu a produção doméstica e reduziu suas necessidades de importação.
As tarifas para as nações mais favorecidas voltarão a 12% em 1º de janeiro, ante 8% atualmente, de acordo com um comunicado do ministério.
A China reduziu suas tarifas sobre a carne de porco congelada em 2020 de 12% para 8%, enquanto o país enfrentava o aumento dos preços domésticos da carne na sequência de um surto de doença devastador.
As importações atingiram um recorde e permaneceram em níveis elevados durante o primeiro semestre do ano, mesmo com a recuperação do rebanho suíno e os preços caindo abaixo do custo de produção no terceiro trimestre.
“Ajustar as taxas em tempo hábil pode ajudar a garantir o abastecimento e a estabilizar os preços no mercado doméstico, usando razoavelmente o mercado internacional”, disse Zhu Zengyong, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas.
As taxas mais altas reduzirão ainda mais as importações dos principais exportadores, como Estados Unidos e Espanha, que já caíram acentuadamente nos últimos meses.
A China também é o maior importador da carne suína do Brasil, que enviou para o país asiático cerca de metade das suas exportações totais de janeiro a novembro.
“Qualquer aumento de impostos torna-o mais desafiador para os exportadores”, disse Joel Haggard, vice-presidente sênior para Ásia-Pacífico da Federação de Exportação de Carne dos EUA.
As chegadas de carne suína em outubro caíram 40% com relação ao ano anterior, para 200.000 toneladas, embora as importações no ano até agora tenham caído apenas 8% em relação ao ano anterior, para 3,34 milhões de toneladas, de acordo com dados alfandegários. (Reuters)