Futuro da mineração brasileira impõe um compromisso de sustentabilidade

5 de novembro de 2021 às 0h29

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Wilson Nélio Brumer confirma investimentos de US$ 10 bilhões das mineradoras no Estado | Crédito: Divulgação
#juntosporminas

Enquanto o mundo se reúne na Cúpula do Clima das Nações Unidas em Glasgow, na Escócia, para discutir mudanças climáticas, suas causas e consequências, a indústria brasileira da mineração olha para frente, assume responsabilidades e compromete-se exatamente com a sustentabilidade de suas ações.

De fato, como um dos setores mais importantes para a economia nacional, chega à terceira década do século 21 com muitas certezas. O paradoxo é que chega também com dúvidas, algumas delas cruciais. De positivo, a indústria da mineração fala com segurança dessas dúvidas e certezas. Com confiança, imagina conhecer as respostas e se diz disposta a colocá-las em prática.

 É o que afirma o presidente do conselho diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Wilson Nélio Brumer, na entrevista abaixo. Durante raro intervalo na densa agenda da Exposibram 2021, realizada em outubro, ele recebeu o DIÁRIO DO COMÉRCIO e assumiu compromissos pelos quais certamente será muito cobrado.

Ousado, Wilson Brumer vai fundo. Confirma os investimentos da ordem de US$ 40 bilhões da indústria da mineração em todo o País até 2025 e assegura que, desse total, pelo menos 25% (US$ 10 bilhões) ficam em Minas Gerais.

Assume fazer da “Carta-Compromisso” do Ibram, divulgada exatamente na Exposibram 2021, o ESG da indústria da mineração, que é, exatamente a base das discussões que ocorrem na COP 26, definindo o caráter das empresas a partir de suas práticas nas questões ambientais, sociais e de governança nas relações com a sociedade.

Com coragem, Brumer assume o termo “tragédia” para falar dos acidentes de Mariana e Brumadinho e diz que “isso, nunca mais”.

O futuro da mineração é tema de mais uma reportagem do #JuntosPorMinas, projeto do DIÁRIO DO COMÉRCIO, que aborda desafios e gargalos que precisam ser transformados em crescimento, inclusão e transformação social no Estado. Confira a entrevista a seguir e registre para acompanhar e aplaudir no futuro o cumprimento dos compromissos assumidos ou, se for preciso, para cobrá-los.

Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC

Empresas precisam se adequar, pois “ESG veio para ficar”na mineração

Seis anos após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, na região Central do Estado, e quase três anos após Brumadinho, na Grande BH, e seus quase 300 mortos, o fantasma dos desastres das barragens do Fundão e córrego do Feijão continuam assombrando a indústria da mineração em Minas Gerais, e em todo o País. Como o senhor vê esse cenário?

São tragédias inadmissíveis. Não se pode, sequer, imaginar que voltem a acontecer. Por isso mesmo, a indústria da mineração tem hoje como sua principal prioridade e preocupação a segurança. Em todos os sentidos: saúde e segurança dos trabalhadores, segurança das comunidades das áreas de atuação das empresas e segurança operacional, o que impõe uma nova visão sobre a questão dos rejeitos.

Na verdade, a questão dos rejeitos e das relações com as comunidades são recorrentes ao longo dos anos e décadas, gerando sempre conflitos e confrontos. Agora, no pós-desastre, como este compromisso do Ibram e das mineradoras vai funcionar na prática?

No caso dos rejeitos, está muito claro que é preciso encontrar uma solução que passe pelo desenvolvimento de produtos que utilizem o rejeito como matéria-prima, como insumo a ser consumido em grandes quantidades. E isso, com certeza, é muito possível. Há exemplos emblemáticos em outros setores da indústria. Na siderurgia, por exemplo, a escória era um resíduo tão complicado quanto o rejeito é na indústria da mineração. A solução encontrada foi a utilização intensiva da escória na indústria de cimento. Este é um dos caminhos nos quais acreditamos para resolver o problema do rejeito do minério de ferro. É nessa direção que estamos trabalhando.

Uma questão sempre polêmica nas relações entre as empresas de mineração e as comunidades do seu entorno é o pós-mineração. O temor das comunidades – e são muitas, só em Minas Gerais são quase 500 municípios – é o de que exaurido o minério, as empresas vão embora e deixam apenas grandes buracos, cavas enormes. Qual é a solução para isso?

Isso é real e, de fato, é uma grande preocupação das comunidades. Estamos trabalhando nisso, com muito empenho. Com muito entusiasmo, o Ibram participa do Projeto de Reconversão Produtiva em Territórios Minerados, lançado recentemente em Itabira (MG), cujo objetivo é exatamente o de criar condições para que cidades mineradoras diversifiquem a sua economia e se preparem para o futuro, para a era pós-mineração. É um projeto que reúne representantes dos setores público e privado, sob a liderança do Sebrae-MG. Tem, naturalmente, o apoio da Prefeitura de Itabira, do governo do Estado, de entidades representativas do setor mineral, como é o caso do Ibram, e, naturalmente, de empresas de mineração. Itabira é o berço da Vale e pode ser um bom exemplo para centenas de outros municípios brasileiros e mineiros com presença forte na mineração.

O senhor tem assumido compromissos em relação ao presente e ao futuro da indústria da mineração, tendo afirmado, inclusive, que a “Carta Compromisso do Ibram”, divulgada em 2019 e atualizada há um mês, no encerramento do Exposibram 2021, é o ESG da indústria da mineração. Não tem medo das cobranças que certamente virão?

A carta-compromisso é fruto de reflexão muito consciente, e tem a aprovação das 85 empresas associadas ao Ibram, responsáveis por pelo menos 85% da produção mineral brasileira. Sabemos todos que o ESG veio para ficar e que as empresas que não se adequarem, absorvendo  conceitos, valores e princípios, terão problemas sérios no futuro, inclusive e especialmente, no que se refere à obtenção de financiamentos. Além disso, todas as recomendações do ESG – nos campos do meio ambiente, da governança e da responsabilidade social – contribuem para que as empresas cumpram suas finalidades tanto do ponto de vista econômico, gerando resultados para seus acionistas, quanto no que se refere ao relacionamento com as comunidades de suas áreas de atuação, com as pessoas, com seus empregados, clientes e fornecedores.

Embora a indústria da mineração seja a mais antiga de Minas Gerais e também do Brasil com mais de três séculos, o setor sempre teve dificuldades no relacionamento com a opinião pública e com as comunidades das suas áreas de atuação. Logo após os desastres da Samarco e da Vale, em Mariana e Brumadinho, houve forte impacto negativo na reputação do setor. Na verdade, ao longo de anos, décadas e séculos, parece vigorar uma relação de amor e ódio entre a opinião pública e empresas de mineração, de simpatia e de antipatia, de aceitação e rejeição. Como o senhor imagina que será daqui para frente?

A verdade é que nunca soubemos muito bem conversar com a população, com a opinião pública e com as comunidades nas quais estão inseridas as empresas do setor de mineração. Historicamente, a indústria da mineração sempre esteve junto das comunidades onde atua. Com o seu trabalho, sempre contribuiu muito com o crescimento do País, geração de empregos e apoio em setores essenciais. Infelizmente, nunca soubemos muito bem transmitir essa realidade para a opinião pública, para as comunidades. Esse é um dos nossos grandes desafios desde que cheguei no Ibram, dois anos e meio atrás. E essa é uma das nossas maiores prioridades.

Então…

Vamos aprender, vamos nos dedicar muito ao nosso relacionamento com a opinião pública, com as pessoas, com as comunidades. Isso, felizmente, começou a acontecer nos últimos dois anos, a partir de um acontecimento triste e trágico, que é a pandemia. Neste período, estivemos sempre muito próximo às comunidades e das autoridades dos municípios, dos estados e do governo federal. Nossa preocupação foi apoiar e ajudar com a doação de recursos utilizados, por exemplo, na compra de máscaras e respiradores. Vamos continuar este trabalho, de forma a aproximarmos cada vez mais das comunidades. Foram mais de R$ 1,1 bilhão.

É inegável que o Brasil vive atualmente um dos momentos mais complexos de sua história, com dificuldades na economia, que anda de lado, tangenciando a recessão e, hoje, até com o fantasma da estagflação. Nesse cenário dramático, a indústria da mineração tem boas notícias para a sociedade brasileira, para as comunidades de sua área de influência, nos campos da economia e do desenvolvimento social?

Felizmente temos notícias muito positivas. Nos próximos cinco anos, os investimentos previstos na indústria da mineração superam U$ 40 bilhões em todo o País e, naturalmente, com a geração de milhares de empregos de qualidade. Deste total, pelo menos 25% serão investidos em Minas Gerais, que continua e continuará sendo um dos principais estados mineradores do Brasil.

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