Minério chinês ainda não impacta mercado siderúrgico de MG, analisam especialistas

16 de junho de 2021 às 14h27

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Na Bolsa de Cingapura, o minério de ferro de referência subiu 0,7%, para US$ 109,95 a tonelada | Crédito: Muyu Xu/Reuters

O avanço de matérias-primas do setor siderúrgico chinês, inclusive, da venda de minério de ferro pela China, vem demonstrando forte tendência de alta no mercado spot, com grande impacto nas exportações nos últimos cinco meses.

De acordo com o economista Alexandre Brito, da Área Internacional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o avanço chinês no setor Siderúrgico foi significativo, mas muito mais pelo valor exportado que pelo volume das exportações.

Por este motivo, o economista acredita que ainda é cedo para serem feitas previsões sobre o impacto que este crescimento da China terá no setor siderúrgico mineiro.

“Nos cinco primeiros meses, a alta nas vendas avançou de USS 1,829 bilhão para USS 4,159 bilhões, um aumento de 157% . No entanto, em termos de quantidade, este crescimento foi bem menor, aumentando 25%. Eles passaram de uma produção de 27,5 milhões de toneladas para 34,4 milhões de toneladas”, avaliou.

Brito credita a tendência de valorização do minério de ferro chinês a dois fatores.

O primeiro é a formação de estoque do produto, motivado pelo fato de, em função da pandemia, o mercado interno chinês ter diminuído o ritmo de consumo não só do minério de ferro, mas também do aço, o que provocou um excedente transferido para o mercado internacional. 

O segundo é o plano quinquenal de retomada do crescimento econômico, anunciado pelo governo da China. Na opinião de Brito, as medidas que devem ser implementadas pelo governo chinês têm potencial suficiente para alavancar o desenvolvimento econômico deste país, um dos maiores parceiros comerciais dos brasileiros, em relação ao comércio de vários segmentos. 

Variações minério

As altas e baixas das futuras negociações do minério de ferro e da bolsa de commodities de Dalian, que ora provocam a valorização dos preços e ora causam a desvalorização na cotação do mercado, conforme Brito, fazem parte da cultura comercial chinesa.

Ainda, conforme o economista, o mercado chinês tem como costume provocar mudanças nos padrões de alta e baixa de índices importantes para as bolsas internacionais, como forma de regularizar o mercado. “Eles agem assim, aumentando e diminuindo os preços com a intenção de não dar ao mercado uma tendência sempre de alta ou de baixa”, afirmou.

Pilhas de minério de ferro importado no porto chinês de Jiangsu. Crédito: Stringer/Reuters
Pilhas de minério de ferro importado no porto chinês de Jiangsu. Crédito: Stringer/Reuters

Potência do minério de Minas Gerais

De acordo com Brito, o mercado mineiro de minério de ferro e de aço está muito forte. A produção e as exportações estão aquecidas e apresentam tendência de alta. “O ferro-gusa, por exemplo, teve uma grande alta no primeiro bimestre, em 2021, dando uma arrefecida no restante do primeiro semestre. Essa arrefecida, no entanto, não significa uma queda, pois as vendas deste segmento continuam muito boas”, informou.

Para o analista, como os chineses não estão medindo esforços para recuperar o crescimento de sua economia, existe a possibilidade de, com a retomada, o mercado chinês passe a ampliar os investimentos na importação de minério e aço de outros países, entre eles o Brasil. 

O economista também acredita que, nos próximos meses, a China poderá aumentar as importações no setor.

 “Ainda é prematuro fazer uma análise da avaliação quanto às expectativas criadas por Xangai, em relação aos índices da bola.  Está tudo muito incerto agora. Precisamos de mais tempo para avaliar. Mas a tendência no mercado mineiro é de crescimento”, afirmou Brito.

Liderança e Controle do minério

Para o presidente-executivo do Instituto de Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, como a China é a maior produtora, exportadora e importadora de aço, suas movimentações acabam por impactar, em certa medida, a siderurgia mundial.  Em 2020, a China produziu 1.065 milhões de toneladas de aço, o que correspondeu a 56,7% da produção mundial.

Segundo o World Steel Association, em 2020, o mundo, com uma capacidade de produção de 2.410 milhões de toneladas de aço, teve um consumo de aço bruto equivalente a 1.889 milhões de toneladas. O excesso de capacidade mundial de aço atualmente é de 521 milhões de toneladas.

Terminal de minério de ferro no porto de Lianyungang, China | Crédito: Stringer/Reuters
Terminal de minério de ferro no porto de Lianyungang, China | Crédito: Stringer/Reuters

Práticas desleais no minério

Nesse contexto, o excesso de capacidade mundial de aço acaba por ocasionar turbulência no mercado internacional, com práticas predatórias e escalada protecionista. Os produtos siderúrgicos são alvo do maior número de medidas de defesa comercial no mundo.

Os países que mais são atingidos por essas medidas são os que detêm o maior excesso de capacidade de produção. A China lidera o ranking desses países.

O presidente-executivo do Aço Brasil lembrou que a siderurgia, pelas suas peculiaridades, deve operar normalmente acima de 80% da sua capacidade instalada de fabricação. Quando os mercados internos não demandam o suficiente para absorver toda a  produção que os países dispõem, a alternativa utilizada é via exportações.

Consequências plano quinquenal da China

O plano quinquenal de aquecimento da economia chinesa pós-pandemia, na opinião de Lopes, vai ocasionar aumento da demanda de produtos siderúrgicos uma vez que o aço tem como uma de suas características, a imprescindibilidade.

O Brasil é um dos principais fornecedores de minério de ferro para a China, o que pode eventualmente viabilizar também o aumento das exportações brasileiras dessa matéria-prima estratégica.

Para o presidente-executivo do Aço Brasil, o crescimento da compra de minério de ferro pela indústria siderúrgica chinesa também estará relacionado à política que será adotada no que diz respeito à utilização das rotas tecnológicas de produção.

Produção brasileira de aço continua em alta

O presidente-executivo do Aço Brasil informou que a indústria brasileira do aço vem mês a mês aumentando sua produção e vendas ao mercado interno, tendo atingido níveis de oferta muito acima daqueles verificados no início do ano de 2020, quando a economia não tinha sido ainda atingida pela crise de demanda provocada pela pandemia. 

Segundo dados do Aço Brasil, no último mês de abril, a produção brasileira de aço bruto atingiu 3,1 milhões de toneladas, o maior número desde outubro de 2018

“No acumulado de janeiro a abril de 2021, a produção de aço também atingiu patamares positivos. Foram produzidas 11,8 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 15,9% frente ao mesmo período do ano anterior”, informou.

O Indicador de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) ratifica esses dados positivos. No mês de maio, cresceu 3,7 pontos, em relação a abril, atingindo 71,1 pontos. Ele atribui esta expansão à melhoria das expectativas dos CEO´s do segmento em relação ao desempenho do setor no próximo semestre. “O ICIA se encontra em 21,1 pontos acima da linha divisória de 50 pontos”, afirmou.

Siderúrgica em Hangzhou, China | Crédito: China Daily via REUTERS
Siderúrgica em Hangzhou, China | Crédito: China Daily via REUTERS

Mercado Interno

Em relação ao primeiro quadrimestre de 2020, as vendas para o mercado interno de aço cresceram 40,5%, este ano, atingindo a marca de 7,9 milhão de toneladas em vendas. O consumo aparente de produtos siderúrgicos também aumentou neste mesmo período, comparando-se o primeiro quadrimestre de 2021 ao de 2020.

Foram consumidas 9 milhões de toneladas no acumulado de  janeiro até abril de 2021, o que representa um aumento de  43,7%.

Justificativa para o crescimento

Com o isolamento social e a paralisação e redução do ritmo das atividades industriais e comerciais em todo o país, para Lopes houve grande queda da produção da indústria brasileira do aço, que chegou a operar com 45% de sua capacidade no 2º trimestre do ano passado. 

A partir de abril de 2020, surgiram sinais de recuperação, viabilizada, em grande parte, pelo auxílio emergencial e linhas de crédito estabelecidas pelo governo, que reativaram tanto o consumo na ponta como a produção das empresas. “A recuperação em V ao longo do 2º semestre de 2020 e que persiste no início de 2021 provocou expressivo aumento da demanda sobre diversos segmentos industriais”, completou.

Aumento de preços

Para o presidente-executivo do Aço Brasil, a expansão da produção e da comercialização do aço nacional pode ser vista como um reflexo da retomada do consumo, mas também da formação de estoques defensivos de alguns segmentos que tentam se proteger da volatilidade do mercado, ocasionado pelo boom no preço das commodities.

“No caso da indústria do aço, a quase totalidade de insumos e matérias primas e, em especial, as essenciais como minério de ferro e sucata continuam com significativa elevação de preços e com forte impacto nos custos de produção do setor”, explicou.

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