O ‘abre e fecha’ do comércio em BH ainda é a estratégia mais indicada?

21 de junho de 2021 às 13h00

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Crédito: Tânia Rêgo /Agência Brasil

Flexibilizar ou manter o comércio fechado em tempos de crise sanitária? Esse é o ponto de discussão entre infectologistas, poder público e empresários. Do dia 19 de março de 2020 até a reabertura gradativa no dia 22 de abril de 2021, devido aos altos níveis de contaminação causados pela segunda onda da Covid-19, o comércio teve sazonalidades do “abre e fecha” na capital.

Para o superintendente da Associação dos Lojistas de Shoppings (Aloshoppings), Alexandre Dolabella, é uma situação crítica para os comerciantes, uma vez que não há forma de planejamento nem estratégia de mercado para manter o caixa nem a funcionalidade dos negócios.

“Em março do ano passado, todo o mundo foi pego de surpresa. Ninguém sabia o que fazer naquele momento. Ficamos mais de seis meses fechados. Quando voltamos às atividades, não tivemos tempo de colocar nada no lugar e logo fechamos novamente e só abrimos para o Natal. Isso acaba prejudicando muito o planejamento de venda, escoamento de produtos, pagamento de impostos e questões trabalhistas”, explica. 

Outro fator que inviabilizou o setor, de acordo com Alexandre Dolabella, foi a questão de planejamento de compra e renovação de produtos. “Os empresários, principalmente do setor de vestuário, ficaram com a maior parte dos produtos sem atualizar porque não tiveram tempo para fazer a troca das estações. As grandes lojas não sentiram esse problema, mas as médias e pequenas empresas sentiram o impacto”, ressalta. 

O mesmo pensamento é compartilhado pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo Souza e Silva, que avalia: faltou diálogo com os comerciantes durante o momento de maior crise na pandemia.

“Observamos que não houve diálogo para encontrar a melhor maneira de tratar a questão do comércio. Hoje, vemos que não há aglomeração nas lojas, os empresários se preocupam com o distanciamento e o tempo de permanência dos clientes dentro das lojas e tudo isso faz diferença”, disse. 

Segundo Marcelo Souza e Silva, o prejuízo no setor foi bem significativo.

“Representamos 72% PIB de Belo Horizonte…, geramos emprego. Isso afetou diretamente a economia da cidade. É claro, estamos preocupados com a saúde da população e de nossas famílias e funcionários, mas sem a geração de renda a cidade acaba parando”, desabafa.

A Associação de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG), avalia que os impactos foram negativos para o setor.

“A questão da Covid-19 não é local, é comportamental, e nessa inconstância de abre e fecha ficamos com incertezas de demitir ou afastar funcionários. Há dificuldade de planejamento para os eventos e datas comemorativas, mas, principalmente, com pagamento de dívidas, fornecedores”, opina o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel. 

Segundo Matheus Daniel, para o setor, a melhor saída deveria ter sido mais rigor na fiscalização do cumprimento dos protocolos de segurança durante a crise sanitária e a diminuição das restrições de funcionamento. “Uma maior flexibilidade diminuiria a falência de muitos empresários e o desemprego de muitas pessoas”, complementa.

O outro lado do comércio

O consenso negativo é unânime no setor. Porém, o economista do IBMEC, Paulo Casaca, pondera a respeito da abertura e fechamento do comércio. 

“As decisões que foram tomadas, no início da crise sanitária, foram necessárias para aquele momento. O que foi para salvar vidas. Não se pensava na questão econômica”, disse.

Para o economista Paulo Casaca, a cobrança por parte dos empresários deveria ficar na conta do governo federal. “O auxílio empresarial que o setor questiona deveria vir do governo federal, com benefícios de acesso ao crédito e amparo para que não houvesse demissão de funcionários; com redução de impostos”, avalia.

Ainda de acordo com o economista, é cedo para fazer planos, mas, com a vacinação da população, a tendência é que o comércio volte a ter bons resultados.

“A Prefeitura de Belo Horizonte já divulgou que estamos avançando aos poucos. Acredito que o mercado volte a impulsionar. Mas ainda não podemos fazer planos futuros, porque mesmo com a vacinação ainda não temos garantia de que a pandemia irá acabar”, opina. 

O membro do Comitê de Enfrentamento da Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, o infectologista Carlos Starling, explica que todas as medidas tomadas foram com base em metodologia médico-científica.

“Nós estamos em índices de contaminação, risco à saúde pública e possível colapso nos hospitais. Em primeiro lugar vem a saúde da população. Não deixamos de pensar na saúde econômica da cidade, mas tínhamos que tomar decisões, e não havia outra alternativa”, explica. 

O infectologista reforça que quando houve a melhora nos indicadores, foi possível a flexibilização, porém de forma cautelosa.

“Sempre que foi permitida a abertura, foi devido a baixa dos índices de contaminação. Não poderíamos permitir isso sem controle. Esse diagnóstico é feito mundialmente. É notório que toda a cidade que se preocupou com a saúde da população, com restrições e com a economia alcançou bons índices”, opina.

Segundo o Comitê de Enfrentamento da Covid-19 da PBH, a cidade alcançou os menores índices de mortalidade devido à ações durante a crise sanitária.

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