José Eloy dos Santos Cardoso*
Liberar igrejas das quarentenas que o coronavírus esta exigindo é a mesma coisa que liberar campos de futebol, reuniões políticas, comícios, shows de rock ou de sertanejos em locais fechados ou ao ar livre. Quando liberamos qualquer tipo de reuniões ou multidões, estamos também provocando as proliferações de doenças. Evitar que o coronavírus ataque em massa através das transmissões da doença entre pessoas deve ser a regra. Não faz diferença.
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Quando Bolsonaro liberou as igrejas, também fechou até segunda ordem as arrecadações sem impostos desse setor através das doações dos fiéis nos cultos. Sempre se passa a famosa “sacolinha” para arrecadar dinheiro. Essa é a regra. Quando os cofres das igrejas se fecham, como no caso das igrejas evangélicas, Bolsonaro está também lacrando por algum tempo as arrecadações que poderiam ajudar financeiramente sua reeleição futura.
Isso alguns meios de comunicação estão declarando pelos jornais.
Justificativas como incluir igrejas como serviços essenciais é como também considerar essenciais os shows de artistas de qualquer espécie, também essenciais para a alegria de populações, principalmente, os shows de rock que podem levar multidões de jovens ao delírio. Os artistas ficam cada vez mais ricos e as populações frequentadoras mais pobres, porque o dinheiro gasto para assistir a um show poderia ser usado para comprar comida, por exemplo.
Embora o decreto de Bolsonaro autorize “atividades religiosas” de forma ampla e geral, os evangélicos são, na prática, os reais destinatários da medida. A principal base de sustentação do atual governo no Congresso está nas mãos desse segmento. Sob pressão de líderes evangélicos, o presidente encontrou na liberação de cultos uma forma de se contrapor a governadores, como foi o caso do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que poderá vir a se constituir futuramente um dos candidatos a presidente, fazendo oposição a Bolsonaro que possui pretensões de se candidatar de novo nas próximas eleições para presidente da República. Subsídios para templos religiosos já foi tentado pelo presidente quando tentou isentar esse setor dos pagamentos das contas de luz. Só não conseguiu isso por causa da pressão de empresários e suas associações.
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Está claro que a economia brasileira não pode ficar trancada a sete chaves para sempre. Algumas camadas sociais não podem ficar sem receber dinheiro, porque dependem do pouco que recebem para sustentar suas famílias. Exemplo disso são os motoqueiros que fazem o dia inteiro as entregas de fast food, remédios ou mercadorias dos supermercados. Colocar os fiéis evangélicos como boi de piranha é fato grave. Prevenir e ficar dentro de casa em quarentena é o melhor remédio.
*Economista, professor e jornalista