Quando se fala em vulcões, muitos pensam de imediato em lugares como Japão, Indonésia ou Havaí. No entanto, poucos brasileiros sabem que o vulcão mais antigo do mundo está no Brasil, mais precisamente no sul do estado do Pará, na região de Uatumã, próximo ao coração da Amazônia.
Trata-se do Vulcão Amazonas, uma formação geológica extinta que tem cerca de 1,9 bilhão de anos e foi identificada por pesquisadores brasileiros apenas em 2002. Desde então, tornou-se peça-chave para compreender a evolução geológica da América do Sul.
O Vulcão Amazonas, com impressionantes 22 km de diâmetro e 400 metros de altura, é o que restou de uma antiga caldeira vulcânica que hoje está completamente erodida. Isso significa que não é possível visualizá-lo como os vulcões ativos comumente conhecidos. Seu “retrato” atual é revelado apenas por meio de análises geológicas e imagens de radar.
Estudos realizados pelo Instituto de Geociências da Unicamp mostram que a região da chamada Província Mineral de Alta Floresta, que se estende por áreas do Pará e do Mato Grosso, passou por pelo menos três grandes ciclos de vulcanismo: há 2 bilhões, 1,88 bilhão e 1,78 bilhão de anos. Esses eventos teriam deixado marcas profundas, não só no solo, mas na história da formação do Cráton Amazônico, uma das estruturas geológicas mais antigas do continente.

Como se forma um vulcão?
A origem dos vulcões está diretamente ligada ao movimento das placas tectônicas e à presença do magma sob a crosta terrestre. Quando essas placas se afastam ou colidem, abrem caminho para que o magma suba à superfície, provocando erupções. No caso do Vulcão Amazonas, esse processo ocorreu durante o Paleoproterozoico, uma era marcada por intensa movimentação geológica.
A formação de uma caldeira como a encontrada na região amazônica ocorre quando a câmara de magma se esvazia após uma grande erupção, causando o colapso da superfície acima dela. O resultado é uma depressão circular com bordas elevadas, estrutura semelhante à observada hoje no Parque de Yellowstone, nos Estados Unidos.
Um laboratório natural de pistas do passado
A pesquisa que revelou o Vulcão Amazonas foi liderada pelo geólogo André Kunifoshita, com orientação da professora Maria José Mesquita, da Unicamp, e participação do professor Felipe Holanda dos Santos, da UFC. Utilizando métodos como datação por urânio-chumbo, petrografia e análise geoquímica, os cientistas identificaram a presença de riolitos e outras rochas piroclásticas típicas de erupções antigas.
Esses materiais revelam que o vulcão passou por pulsos vulcânicos distintos, semelhantes ao que ainda ocorre em vulcões ativos como o Monte Etna, na Itália. Além disso, os pesquisadores identificaram diques de magma fossilizado, formando estruturas em anel ao redor da antiga caldeira — mais uma pista do passado explosivo da região.
Por que não há mais vulcões ativos no Brasil?
Atualmente, o Brasil não possui vulcões em atividade. Isso acontece porque o país está localizado no centro da Placa Sul-Americana, uma região geologicamente estável. Os grandes vulcões ativos do mundo estão concentrados nas bordas das placas tectônicas, onde os choques e deslocamentos são mais frequentes.
Mesmo assim, formações vulcânicas extintas podem ser encontradas em diversas regiões brasileiras, como em Fernando de Noronha, no Sul do país, e até mesmo na Baixada Fluminense (RJ). Esses registros são como fósseis da atividade vulcânica, fundamentais para compreender o passado geológico do território.