Em 2018, a Argentina viu explodir uma polêmica: um funcionário público de Salta, então com 59 anos, alterou legalmente seu gênero para feminino pouco antes de completar 60 anos — idade mínima de aposentadoria para mulheres no país. Agora, com 66 anos, Sergia Lazarovich continua a negar que a decisão tenha sido motivada por questões previdenciárias, embora seus colegas e familiares afirmem o contrário.
Na Argentina, homens podem se aposentar apenas aos 65 anos, enquanto mulheres têm direito ao benefício cinco anos antes. Lazarovich, que sempre viveu publicamente como homem cisgênero, mudou o documento pouco antes de alcançar a idade mínima das mulheres. O gesto levantou suspeitas de que teria se valido da Lei de Identidade de Gênero, de 2012, não por convicção, mas como estratégia para deixar o mercado de trabalho mais cedo.
“Me cambié de género porque tengo una convicción”, declarou na época ao jornal El Tribuno. Em outra entrevista, porém, afirmou: “Isto não seria um problema se todos se aposentassem aos 65 anos”, frase que reforçou as críticas sobre uma possível motivação previdenciária.

Debate sobre gênero e aposentadoria
Colegas de trabalho relataram que Lazarovich nunca havia expressado dúvidas sobre sua identidade antes da mudança, mantinha relacionamentos com mulheres e já foi casado, com filhos. Familiares também apontaram que ele teria planejado a alteração como forma de driblar a desigualdade entre homens e mulheres no sistema de aposentadoria.
Juristas e ativistas, por outro lado, alertam que o caso não deve ser usado para enfraquecer a Lei de Identidade de Gênero, considerada uma das mais avançadas do mundo por garantir direitos sem exigir cirurgias ou tratamentos médicos. “A lei protege pessoas trans. Se alguém a utiliza de forma oportunista, o problema é ético, não jurídico”, defendeu um especialista ouvido na época.
Próximos passos
Atualmente com 66 anos, Sergia Lazarovich já poderia estar aposentada, mas ainda enfrenta questionamentos sobre seu processo e sobre a possibilidade de o caso chegar aos tribunais. Enquanto isso, o episódio segue como exemplo de como desigualdades no sistema previdenciário podem abrir espaço para situações controversas.