Ondas de até 1,4 metro e o avanço repentino da maré causaram grande destruição na madrugada da última terça-feira (7) na Praia dos Ingleses, uma das mais visitadas e populosas de Florianópolis (SC). O fenômeno destruiu muros de 12 casas e estabelecimentos, derrubou cinco postes de iluminação pública e comprometeu cerca de 300 metros da orla.
Segundo a Defesa Civil Municipal, o evento foi resultado da combinação de maré alta, ventos intensos e áreas de baixa pressão que atuam no litoral catarinense há semanas.
“Já tinha visto o mar avançar, mas nunca com essa agressividade. É uma lástima acontecer isso em boca de temporada”, relatou o morador Hernâni Guinter Júnior, que vive há mais de 20 anos na região.
Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram o mar “engolindo” parte da faixa de areia e atingindo diretamente as residências à beira-mar.
Alerta já havia sido feito por estudos da UFSC
O avanço do mar na Praia dos Ingleses não foi uma surpresa para os pesquisadores. Notas técnicas emitidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2023 e 2025 já alertavam para os riscos de erosão provocados por obras de alargamento da faixa de areia.
Segundo os estudos, os aterros realizados entre janeiro e maio de 2023 alteraram a dinâmica natural das marés, aumentando a inclinação da praia e tornando-a mais vulnerável à força das ondas.
“A areia colocada artificialmente resulta em um perfil que não está em equilíbrio com o clima de agitação das ondas”, diz o documento.
“Em vez de conter a erosão, o resultado pode ser a intensificação do avanço do mar sobre áreas construídas.”
Prefeitura e Defesa Civil intensificam ações
Após o episódio, a Prefeitura de Florianópolis iniciou uma vistoria técnica para avaliar os danos e adotar medidas emergenciais. A Secretaria de Infraestrutura priorizou uma operação de manutenção e contenção da faixa de areia, que será realizada assim que as condições climáticas permitirem.
A COSIP (Companhia de Iluminação Pública) já atua na recuperação da rede elétrica nos pontos afetados.
Segundo a Defesa Civil, o monitoramento das marés segue em andamento, embora haja previsão de redução da força das ondas nos próximos dias.
Ambientalistas criticam modelo de obras
O deputado estadual e ambientalista Marcos José de Abreu (Marquito), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alesc, se manifestou sobre o episódio.
“O mar está avançando sobre o litoral catarinense. Mesmo após o investimento milionário no alargamento da faixa de areia, a força das marés mostrou que não há obra capaz de conter a emergência climática”, afirmou.
Marquito defende que o foco deve estar na restauração de ecossistemas naturais, como manguezais, restingas e dunas, que funcionam como barreiras naturais de proteção.
“As soluções baseadas na natureza são as que realmente garantem resiliência ao litoral”, reforçou.
Contexto e próximos passos
O avanço do mar nos Ingleses é mais um capítulo de uma crise costeira que afeta diversas praias catarinenses, de Balneário Camboriú a Canasvieiras. Estudos indicam que o fenômeno deve se intensificar nas próximas décadas, com modelagens do Climate Central prevendo que áreas inteiras do litoral poderão ser tomadas pelo mar até 2100.
Enquanto isso, a Prefeitura de Florianópolis promete revisar o planejamento de proteção da orla, incluindo possíveis obras estruturais e novos estudos ambientais.
