Após nove meses de internação, faleceu nesta quinta-feira (1), no Rio de Janeiro, a cantora Nana Caymmi, uma das maiores intérpretes da música popular brasileira. Aos 84 anos, a artista enfrentava um quadro de saúde delicado e sofreu uma overdose de opioides, segundo informou seu irmão, o também músico Danilo Caymmi. A causa exata da morte ainda não foi oficialmente divulgada.
Filha do compositor Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu Dinahir Tostes Caymmi em 29 de abril de 1941, no Rio. Desde cedo, fez da música um caminho natural — estreou em disco em 1960, ainda adolescente, ao lado do pai, na gravação de “Acalanto”, canção que se tornaria um clássico do cancioneiro infantil.
Entre amores e palcos: a trajetória de uma voz inconfundível
Com uma carreira iniciada em meio a programas de TV e festivais, Nana ganhou destaque com sua voz densa, carregada de emoção. Em 1966, venceu o I Festival Internacional da Canção com “Saveiros”, composição do irmão Dori Caymmi e de Nelson Motta. No mesmo período, viveu brevemente um casamento com Gilberto Gil e se envolveu com os bastidores da Tropicália — embora, como ela mesma admitiu anos depois, “sem entender muito bem do que se tratava”.
Nos anos 1970, Nana se consolidou como uma das intérpretes mais respeitadas da MPB, com parcerias marcantes com Milton Nascimento, Tom Jobim, João Donato e Toninho Horta. O LP Nana Caymmi (1975) é considerado um divisor de águas em sua carreira, ao trazer releituras profundas de músicas do Clube da Esquina e de seu pai.
Sucesso, reclusão e retorno
Distante dos palcos desde 2016, após cirurgia para remoção de um tumor, Nana continuou a gravar. “Não pisei na bola no meu repertório, não gravei o que não queria ter gravado, teria feito tudo igual”, afirmou em uma entrevista ao O Globo, em 2021. Apesar de se sentir “defasada” em meio às mudanças da indústria fonográfica, não perdeu sua autenticidade — fosse no palco, em entrevistas ou nas redes.
Entre seus maiores sucessos estão “Resposta ao tempo”, trilha da minissérie Hilda Furacão, e o álbum Bolero (1993), que surpreendeu ao vender quase 100 mil cópias. Em 1999, conquistou seu primeiro disco de ouro.
Uma despedida com legado
Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Nana deixou uma obra marcada por interpretações intensas e por uma coerência artística rara. Sobre sua trajetória, dizia com franqueza:
“A música é mais nossa vida que nosso ganha-pão”.
Nana Caymmi
Mesmo diante de controvérsias — como as declarações políticas que geraram críticas em 2019 —, Nana nunca recuou de suas opiniões. “Se quiser me cancelar, cancela. Não deixei de comer por causa disso”, afirmou com ironia.

Sua morte encerra um capítulo importante da história da música brasileira, mas sua voz permanece — eterna, vibrante e viva — nos discos, nas novelas, nos palcos e na memória do país.