Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) descobriram a presença de nitrito de sódio (NaNO₂)— um composto químico proibido em bebidas — em amostras de suco de laranja, água mineral e vinho analisadas em laboratório. O aditivo, usado na indústria alimentícia para conservar e dar cor a carnes processadas, como presunto, bacon e salsicha, pode gerar nitrosaminas, substâncias com potencial cancerígeno.
O alerta veio após a equipe do Laboratório de Sensores, Nanomedicina e Materiais Nanoestruturados (LSNano)desenvolver um sensor inovador à base de cortiça, capaz de detectar traços do composto de forma rápida, sustentável e de baixo custo. Os resultados foram publicados na revista científica Microchimica Acta, em agosto.
“Buscamos uma forma simples e acessível de identificar o nitrito e garantir a segurança do consumo de líquidos. A presença desse composto em bebidas representa um risco real à saúde”, explicou o professor Bruno Campos Janegitz, coordenador do estudo.
O nitrito de sódio é legalmente permitido apenas em carnes e embutidos, nas quais atua como conservante e fixador de cor. No entanto, seu uso em bebidas é proibido no Brasil e na maioria dos países. Em contato com o organismo, o nitrito pode reagir e formar nitrosaminas, que estão associadas ao desenvolvimento de câncer no fígado, estômago e esôfago.
O risco é agravado pela possibilidade de fraudes alimentares, nas quais o aditivo é usado indevidamente para alterar cor e aparência de produtos naturais — como sucos industrializados e vinhos —, mascarando oxidação ou envelhecimento.
Tecnologia sustentável feita com cortiça
O sensor criado pelos pesquisadores utiliza cortiça, material natural usado em rolhas de vinho, transformada em grafenopor meio de gravação a laser. Esse processo queima a superfície do material e cria uma estrutura altamente condutiva, ideal para detectar compostos eletroquímicos como o nitrito.
Depois, o dispositivo recebe um spray impermeabilizante e uma camada de esmalte para proteger a área ativa. As amostras de bebidas são então colocadas sobre o sensor, que identifica imediatamente a presença do aditivo.
“O método é sustentável, dispensa reagentes tóxicos e permite resultados rápidos com alta sensibilidade”, detalhou Janegitz.
Resultados e próximos passos
Nos testes laboratoriais, o sensor conseguiu detectar o nitrito de sódio em concentrações compatíveis com os níveis de risco alimentar e ambiental. A tecnologia ainda está em fase de validação, mas já demonstra potencial para ser aplicada em fiscalização sanitária e controle de qualidade industrial.
A pesquisa contou com apoio da FAPESP (processos 23/14943-6, 23/00317-6 e 23/06793-4) e segue em desenvolvimento para adaptação do design e produção em escala.
Enquanto o dispositivo não chega ao mercado, especialistas reforçam a importância de verificar rótulos e origem de sucos e vinhos industrializados, evitando produtos de procedência duvidosa.