A revista estadunidense Wired revelou no inicio do mês uma tendência polêmica que vem se espalhando nas redes sociais: apostas esportivas baseadas no ciclo menstrual de jogadoras da WNBA, a liga feminina de basquete dos Estados Unidos.
O fenômeno ganhou destaque graças a um apostador identificado como FadeMeBets, que afirma ter desenvolvido uma “técnica quase infalível” para prever o desempenho das atletas. Segundo ele, sua taxa de acerto é de aproximadamente 68%, com 11 acertos em 16 previsões. O método, apelidado por ele mesmo de “blood money” — expressão que pode ser traduzida como “dinheiro de sangue” ou “dinheiro sujo” —, utiliza estatísticas de desempenho das jogadoras desde o período universitário e tenta correlacioná-las com supostos ciclos menstruais de 24 a 38 dias.
Em seus vídeos, publicados em plataformas como Twitter (X) e Reddit, o apostador costuma iniciar as gravações com a frase: “Temos uma vítima, rapazes”, referindo-se à linha de aposta. Em seguida, afirma, por exemplo, que uma atleta estaria na “fase lútea tardia”, momento em que, segundo ele, haveria queda de rendimento físico e mental.
Apesar da repercussão online, a Wired destaca que nenhuma jogadora foi consultada na apuração das informações usadas por FadeMeBets, o que reforça o caráter especulativo da prática.
Especialistas denunciam pseudociência e sexismo
A médica Amy West, especialista em medicina esportiva, classificou a técnica como “pseudocientífica e absurda”. Segundo ela, “nem todas as mulheres são iguais. O ciclo tradicional de 28 dias é apenas uma média — cada corpo funciona de forma diferente. Alguém ser capaz de prever isso sem proximidade com a atleta é simplesmente improvável.”
Além da falta de embasamento científico, o método é apontado como sexista por reforçar estereótipos de gênero. Para Nadya Okamoto, fundadora da marca de produtos menstruais August, a narrativa de que mulheres têm desempenho inferior durante parte do mês pode gerar consequências graves.
“Um dos grandes problemas no esporte feminino é a equidade salarial. Se perpetuarmos a ideia de que 25% do mês as atletas não competem no mesmo nível, isso alimenta estigmas e prejudica o avanço da categoria”, alertou Okamoto à Wired.
Apesar das críticas, o método continua a ganhar adeptos em fóruns e grupos de apostas. Alguns influenciadores chegam a compartilhar vídeos com “provas” ou insinuações sobre o ciclo menstrual das jogadoras, ampliando ainda mais a exposição indevida das atletas.
Polêmica reflete desafios da popularização da WNBA
A atual temporada da WNBA tem sido histórica, com recordes de audiência, maior presença de público e destaque para jogadoras como Caitlin Clark, Angel Reese e Paige Bueckers. No entanto, o aumento da atenção masculina e do volume de apostas trouxe consigo fenômenos preocupantes, como o “blood money betting”.
Enquanto a liga comemora o crescimento de visibilidade, especialistas alertam que práticas desse tipo representam um retrocesso no respeito e na ética esportiva, reduzindo o desempenho das atletas a teorias sem fundamento e perpetuando mitos sobre o corpo feminino.




