O México aprovou nesta quarta-feira (10) um tarifaço de até 50% sobre importações de 11 países, incluindo o Brasil, aprofundando o cenário de tensão comercial já vivido pelo setor exportador brasileiro. A decisão ocorre apenas dias após os Estados Unidos reduzirem parte das tarifas aplicadas ao Brasil, movimento visto como um alívio parcial para produtores nacionais.
No fim de novembro, a Casa Branca anunciou a retirada da tarifa de 40% de mais de 200 produtos brasileiros, como carne bovina, café, cacau e açaí, incorporando-os à lista de quase 700 exceções ao tarifaço imposto pelo governo americano.
A medida passou a valer para produtos desembarcados no país desde 13 de novembro, data que coincidiu com a reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
Com isso, parte das tarifas que haviam chegado a 50% para alimentos importados foi reduzida para 40% — e, agora, parcialmente revogada.
Senado mexicano aprova sobretaxas
Enquanto o cenário com os americanos melhora, o México segue na direção oposta. O Senado mexicano aprovou, por 76 votos a 5, o aumento das tarifas de importação sobre Brasil, China e outros nove países sem acordo comercial com o país. A proposta foi enviada pela presidente Claudia Sheinbaum e deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026, após publicação oficial.

Segundo o texto aprovado, serão afetadas 1.463 classificações tarifárias em setores como:
- automotivo
- têxtil e vestuário
- siderúrgico
- plásticos
- eletrodomésticos
- móveis
- calçados
A maior parte das sobretaxas deve ficar entre 20% e 35%, mas algumas chegam a 50%, especialmente na área automotiva — medida direcionada principalmente à China, hoje responsável por 20% das vendas de veículos no México.
O Ministério do Comércio da China afirmou que a decisão traz “prejuízos substanciais” e lamentou a medida “unilateral”.
Efeito sobre o Brasil ainda é incerto — mas pode virar oportunidade
No Brasil, indústrias e o governo tentam avaliar se o tarifaço afetará setores que já possuem acordos bilaterais, como o automotivo. O pacto Brasil–México, em vigor desde 2003, prevê livre comércio de veículos, peças e máquinas agrícolas.
A Anfavea, associação das montadoras, acredita que os novos impostos não se aplicarão ao setor amparado pelo acordo. Caso isso se confirme, a sobretaxa mexicana sobre produtos chineses pode até favorecer o Brasil no mercado local.
Entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou 66.474 veículos ao México — queda de 17,3% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a entidade.
Pressão dos EUA e corrida política mexicana
A votação mexeu com o Parlamento mexicano. 35 senadores se abstiveram, criticando a elaboração “às pressas” do projeto, sem avaliação de impacto inflacionário, e associando a medida à pressão de Donald Trump, que tenta reduzir a entrada de produtos chineses via México.
Parlamentares governistas defenderam a reforma como estratégia para fortalecer a indústria local, atrair empregos e expandir cadeias produtivas.




