A China voltou a mexer nas engrenagens da economia mundial — e, desta vez, atingiu em cheio o ponto mais vulnerável da indústria americana.
Pequim anunciou novas restrições à exportação de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a produção de tecnologias avançadas e equipamentos militares, usados em smartphones, veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e caças F-35.
O movimento foi interpretado como uma resposta direta às sanções e tarifas impostas pelo governo Donald Trump, reacendendo a guerra comercial entre as duas maiores potências do planeta.
“É o calcanhar de Aquiles dos Estados Unidos”, resume um analista ouvido pela Bloomberg. “Quem controla as terras raras, controla a base da economia digital e militar moderna.”
A China domina mais de 90% do refino global de terras raras e cerca de 70% da mineração desses elementos. A nova regra determina que qualquer empresa estrangeira que utilize substâncias processadas na China precisará de autorização expressa de Pequim para exportar seus produtos, informando o uso final dos materiais.
Embora as autoridades chinesas insistam que as medidas têm caráter “técnico” e não político, o mercado interpretou o anúncio como uma arma estratégica. O controle abrange até produtos com traços mínimos — 0,1% — de minerais de origem chinesa, ampliando de forma inédita o alcance das restrições.
As medidas, que entram em vigor em novembro e dezembro, obrigam fabricantes de componentes eletrônicos, semicondutores e baterias em todo o mundo a rever suas cadeias de suprimento.
Trump reage com tarifas e promessas
Em tom desafiante, Trump prometeu tarifar em até 100% as importações chinesas caso Pequim não recue. O ex-presidente anunciou também um acordo de US$ 8,5 bilhões com a Austrália para desenvolver projetos de mineração e refino de minerais críticos, na tentativa de reduzir a dependência dos insumos chineses.
“Em um ano, teremos tanto mineral crítico que não saberão o que fazer com ele”, disse Trump, prometendo “independência total” dos recursos estratégicos.
Apesar do otimismo, especialistas consideram a promessa irrealista. Segundo o US Geological Survey, os Estados Unidos ainda dependem da China para 70% de suas importações desses elementos, e novas minas e refinarias levarão anos para entrar em operação.
O plano americano inclui a construção, com apoio do Pentágono, de uma refinaria de gálio na Austrália e o investimento de mais de US$ 3 bilhões em projetos minerais. Mas analistas alertam que a substituição da cadeia chinesa não acontecerá antes de 2030, e a curto prazo o risco de desabastecimento é real.
Impacto global imediato
O endurecimento chinês já provoca turbulência nas bolsas e na indústria de tecnologia. Um relatório do Goldman Sachs estima que uma interrupção de apenas 10% na produção global de componentes dependentes de terras raras pode eliminar US$ 150 bilhões do PIB americano.
O impacto vai além dos EUA: Europa, Japão e Coreia do Sul também dependem fortemente dos minerais processados na China. Países como Austrália e Brasil têm reservas expressivas, mas enfrentam altos custos e gargalos ambientaisque tornam o refino inviável em larga escala.
“É uma lembrança brutal de que o mundo moderno ainda depende profundamente da China”, disse Abigail Hunter, diretora do Minerals Center at Securing America’s Future Energy. “Você é tão forte quanto o elo mais fraco da sua cadeia de suprimentos — e esse elo está em Pequim.”
O uso de restrições minerais como instrumento político não é novo. Em 2010, a China suspendeu exportações para o Japão durante uma disputa marítima, derrubando o fornecimento global de terras raras. Desde então, Pequim vem aperfeiçoando o controle sobre o setor, consolidando-se como o epicentro da economia verde e digital.




