Um marco histórico na medicina está começando a transformar a sala de cirurgia: um robô cirúrgico operado por inteligência artificial realizou, de forma autônoma e sem a intervenção direta de médicos, a extração de uma vesícula biliar humana (colecistectomia).
O feito aconteceu na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, onde pesquisadores vêm desenvolvendo sistemas que podem, no futuro, reproduzir em massa as habilidades dos melhores cirurgiões do mundo, reduzindo riscos e democratizando procedimentos complexos.
Chamado de SRT-H (Hierarchical Surgical Robot Transformer), o robô foi treinado com a mesma arquitetura de IA que alimenta ferramentas como o ChatGPT e Google Gemini.
- Ele aprende vendo vídeos de cirurgias reais, com legendas explicando cada passo;
- É capaz de identificar artérias e ductos, aplicar clipes e cortar tecidos moles;
- Consegue corrigir erros sozinho, pedir ferramentas diferentes e adaptar-se a variações anatômicas em tempo real;
- Pode responder a comandos de voz e ajustes durante a cirurgia, tornando-se interativo.
Em oito procedimentos em órgãos humanos e suínos, o robô completou todos com 100% de sucesso, sem a necessidade de intervenção humana.
O que muda para o futuro da medicina?
Segundo especialistas, essa tecnologia pode revolucionar os hospitais em até 10 anos:
- Cirurgiões poderão supervisionar múltiplas operações autônomas ao mesmo tempo, aumentando a capacidade dos sistemas de saúde;
- Procedimentos simples, como remoção de vesícula ou hérnias, poderão ser realizados com mais precisão, menor dano a tecidos vizinhos e menos riscos ao paciente;
- Hospitais poderão reduzir filas e levar cirurgias complexas a locais com poucos médicos especializados.
Mas já é seguro?
Apesar do avanço, especialistas alertam que ainda não há condições para uso amplo em pacientes vivos. Fatores como movimentos involuntários (respiração), sangramento, fumaça de cauterização e fluidos precisam ser controlados para garantir total segurança.
Segundo Axel Krieger, engenheiro mecânico e líder do projeto, a pesquisa mostra que “é possível realizar cirurgias complexas com robôs autônomos de forma robusta”, mas testes em humanos em larga escala ainda levarão alguns anos.
Estamos perto de um mundo sem cirurgiões?
Não exatamente. O cenário mais provável, segundo o Royal College of Surgeons do Reino Unido, é que os robôs assumam partes dos procedimentos, enquanto médicos supervisionam e lidam com situações inesperadas.
No entanto, a tendência é clara: dentro de uma década, até 90% das cirurgias minimamente invasivas no sistema de saúde britânico (NHS) deverão contar com assistência robótica — muitas delas com alto grau de autonomia.