Com o conclave programado para começar em 7 de maio, os olhares do mundo católico se voltam ao Vaticano. Embora, em teoria, qualquer homem batizado e em conformidade com os preceitos da Igreja possa ser eleito papa, o cargo costuma ser ocupado por um cardeal. E, entre os 252 cardeais atualmente elegíveis, cerca de 10 concentram a maior parte das apostas e análises de especialistas.
Diferentemente de eleições políticas, o conclave é conduzido em absoluto sigilo e não há pesquisas ou campanhas públicas. Como diz o ditado tradicional: “quem entra papa, sai cardeal”. Ainda assim, o cenário atual é mais imprevisível do que nunca.
Oito em cada dez eleitores foram nomeados pelo próprio Francisco, muitos dos quais nunca participaram de um conclave antes.
A diversidade geográfica também é inédita: se em 2013 a maioria dos eleitores era europeia, hoje o continente representa apenas 39% do colégio. A América Latina e o Caribe compõem 18%, mesmo número da Ásia. A África Subsaariana tem 12%. Esse novo equilíbrio reflete a tentativa de Francisco de tornar a Igreja mais global e representativa.
Os favoritos entre conservadores e progressistas
Entre os nomes mais citados, dois aparecem com frequência nas listas de vaticanistas e nas bolsas de apostas:
- Pietro Parolin (Itália): Secretário de Estado do Vaticano, é um diplomata experiente e conciliador, considerado um perfil de centro, capaz de unir diferentes alas da Igreja.
- Luis Antonio Tagle (Filipinas): Conhecido como o “Francisco asiático”, o cardeal é carismático, defensor da evangelização e de causas sociais. É visto como herdeiro espiritual da linha de abertura do pontífice argentino.
Outros nomes mencionados incluem:
- Robert Sarah (Guiné): Representante da ala tradicionalista, crítico de mudanças promovidas por Francisco. É uma escolha provável entre cardeais mais conservadores.
- Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo): Arcebispo progressista, é apontado como defensor de reformas em temas como sexualidade e inclusão.
- Timothy Radcliffe (Reino Unido) e Michael Czerny (Canadá): Também associados à ala reformista, com forte atuação em questões sociais e ambientais.
- Gerhard Müller (Alemanha) e Raymond Burke (EUA): Fortes vozes conservadoras, não considerados favoritos, mas influentes no apoio a nomes da sua linha.
- Fridolin Ambongo (República Democrática do Congo): Nome respeitado no continente africano, com atuação destacada em direitos humanos e justiça social.
- Matteo Zuppi (Itália): Presidente da Conferência Episcopal Italiana, tem perfil conciliador e apoio de setores moderados.
Além das apostas
Apesar do crescimento das bolsas que apostam no nome do próximo papa — um mercado hoje globalizado —, a realidade do conclave escapa a previsões. Em 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio não era um dos favoritos, mas um discurso decisivo durante as reuniões pré-conclave mudou o jogo.
“A trajetória da saúde do papa Francisco já vinha gerando conversas discretas entre os cardeais desde o início do ano”, comenta o historiador Miles Pattenden, da Universidade de Oxford.
E essas conversas podem pesar mais que qualquer lista externa ou favoritismo antecipado.
Tradicionalmente, os conclaves duram de dois a três dias. A eleição exige uma maioria de dois terços. As votações começam logo após o início da reunião e se repetem, manhã e tarde, até que se chegue a um consenso.