O Nordeste brasileiro pode passar por uma mudança climática sem precedentes nas próximas décadas. Um estudo do Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (Cepas), vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), indica que mais da metade do território nordestino pode se tornar árido até 2100, caso as emissões globais de CO₂ continuem elevadas.
O levantamento, produzido especialmente para a COP30, apresenta dois cenários: um otimista, em que as emissões são reduzidas significativamente, e outro pessimista, com a manutenção dos níveis atuais. Mesmo no cenário mais positivo, os pesquisadores alertam que “a aridez avança mesmo no limite mais otimista das projeções”.
O estudo se baseia no índice de aridez de Thornthwaite, parâmetro internacional que classifica os climas de acordo com o equilíbrio entre a disponibilidade de água e a evapotranspiração (a perda de água pelo solo e pelas plantas).
Usando 19 projeções climáticas globais do CMIP6 — um consórcio internacional que compara modelos sobre o aquecimento global —, os pesquisadores constataram que, em um cenário de altas emissões, áreas atualmente úmidas e subúmidas praticamente desapareceriam até 2070.
O mapa climático do Nordeste passaria a ser dominado por zonas semiáridas e áridas, com impactos profundos sobre a vida, a agricultura e os recursos hídricos.
Impactos esperados: água, agricultura e calor extremo
As consequências do avanço da aridez seriam severas:
- Escassez de água, com redução drástica na recarga de rios e reservatórios;
- Perdas na produção agrícola, especialmente de culturas sensíveis à seca, como feijão e milho;
- Maior vulnerabilidade das populações rurais, que dependem da agricultura familiar;
- Intensificação das ondas de calor e prolongamento da estação seca;
- Aumento da evaporação em açudes e barragens, agravando o risco de colapso hídrico.
Os especialistas também alertam que o semiárido nordestino tende a aquecer mais rapidamente do que a média global, o que significa que os efeitos do aquecimento serão sentidos de forma mais intensa na região.
Necessidade de adaptação e políticas urgentes
Segundo o Cepas, o desafio agora é compreender os limites de adaptação dos ecossistemas e das populações humanas.
O avanço da aridez exigirá planejamento hídrico, transição energética, políticas de reflorestamento e incentivo à agricultura resiliente à seca.




