A carne bovina brasileira voltou a ser alvo de pressão nos Estados Unidos. A National Cattlemen’s Beef Association (NCBA), entidade que representa os pecuaristas americanos, pediu ao governo da Casa Branca que suspenda totalmente as compras do produto brasileiro, alegando riscos à segurança alimentar e à saúde animal.
O pedido chega em meio à elevação da tarifa sobre a carne brasileira para 76,4%, resultado da soma da taxa de 26,4% já existente com os 50% adicionais aplicados em agosto por decisão do governo americano.
Nesta quarta-feira (3), o Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) realiza audiência sobre supostas práticas desleais do Brasil. A NCBA, inscrita para participar, promete defender a suspensão das importações.
“A moeda brasileira mais fraca e o menor custo de produção permitirão que o Brasil absorva a tarifa e continue a exportar carne bovina de forma relativamente inabalável”, afirmou Kent Bacus, diretor da NCBA, em carta enviada ao USTR.
Segundo ele, apenas aumentar tarifas não é suficiente para conter a entrada do produto brasileiro. “Acreditamos que a suspensão total é necessária até que as alegações de equivalência do Brasil em segurança alimentar e saúde animal sejam confirmadas.”
Impacto para o Brasil
O Brasil exportou 229 mil toneladas de carne bovina para os EUA em 2024 e esperava alcançar 400 mil toneladas em 2025. Com a nova tarifa, a expectativa é de forte queda.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) calcula perda de até US$ 1 bilhão em vendas. O presidente da entidade, Roberto Perosa, classificou a exportação como “inviável” diante da nova taxa.
A Abiec informou que mantém diálogo com importadores americanos e busca, junto ao Ministério da Agricultura, ao Itamaraty e ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a abertura de novos mercados para compensar eventuais perdas.
Além da carne: tarifas atingem outros setores
A sobretaxa de 50% anunciada pela Casa Branca também atinge outros produtos brasileiros, como café e frutas. Já setores estratégicos como celulose, minério de ferro, energia, fertilizantes e até aviões ficaram de fora da medida.
Apesar da pressão da NCBA, especialistas lembram que o mercado americano ainda depende da importação de carne para equilibrar sua oferta interna — o que pode dificultar a adoção de um bloqueio total ao Brasil.