Tim Friede é de Wisconsin, nos Estados Unidos, e tem uma paixão incomum: cobras. Ao longo da vida, com o objetivo de construir uma tolerância às picadas, ele foi mordido mais de 200 vezes por espécies venenosas. Parece loucura – e provavelmente é -, mas o sangue dele acabou ajudando a criar um novo antídoto contra picadas de ofídios.
Além de ter sido mordido mais de 200 vezes – algumas por acidente, outras de propósito -, Friede aplicou, ele mesmo, mais de 700 doses de veneno na própria corrente sanguínea. Ele começou seus experimentos com doses pequenas, mas foi aumentando à medida que percebeu que havia desenvolvido uma imunidade incomum aos venenos. Vale destacar que ele começou o experimento sem nenhuma supervisão médica e era apenas um herpetologista (especialista em anfíbios) amador.
Antes de desenvolver a resistência por causa da quantidade de veneno a que foi exposto, Friede chegou a quase morrer por causa de algumas picadas, além de ter sofrido com febres altas e convulsões.
Como o sangue de Friede criou um novo antídoto para veneno de cobras
Em 2017, ele entrou em contato com Jacob Glanville, cientista e CEO da empresa Centivax. Ele explicou seu experimento e propôs a ideia de criar um antídoto universal a partir do seu sangue, conta matéria da Superinteressante.
Em parceria com pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (agência governamental de pesquisa biomédica dos Estados Unidos), a Centivax consegui identificar e isolar dois anticorpos presentes no sangue de Friede, desenvolvidos após os anos de exposição.
Junto com uma molécula inibidora de toxinas, a “varespladib”, os dois anticorpos criaram um antídoto que conseguiu neutralizar o veneno de 19 espécies de cobras em testes feitos em camundongos. O antídoto ainda não foi testado em humanos. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Cell.
Vale o aviso que, apesar do antídoto ter se saído bem em testes com 19 espécies, ele não teve eficácia contra a família das víboras, como jararacas e cascavéis, espécies mais comuns aqui no Brasil – então você que é brasileiro: melhor não inventar de repetir o experimento doido de Friede porque não funciona nas nossas cobras.
Como explica a Superinteressante, esse antídoto seria muito importante no tratamento de picadas de ofídios porque a maioria dos soros antiofídicos só funciona para espécies específicas.