Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que aproximadamente 600 milhões de pessoas adoecem anualmente em decorrência do consumo de alimentos contaminados. Desse total, cerca de 420 mil casos evoluem para óbito.
As principais causas estão associadas à presença de bactérias e vírus. No entanto, há registros de contaminações provocadas por toxinas naturais presentes nos próprios alimentos, por preparo inadequado ou pelo uso de ingredientes pouco compreendidos.
Baiacu: o peixe que pode matar
Um exemplo é o baiacu, também conhecido como fugu no Japão, país onde o consumo é tradicional. A espécie contém tetrodotoxina, uma neurotoxina de alta letalidade, considerada cerca de 1.200 vezes mais tóxica para seres humanos do que o cianeto.
A intoxicação por tetrodotoxina provoca sintomas iniciais, como dor de cabeça, formigamento em língua e lábios, tontura e náuseas, podendo evoluir para paralisia muscular e, nos casos mais graves, morte por asfixia. Apesar do comprometimento motor, a vítima permanece consciente durante todo o processo.
No Brasil, a espécie mais perigosa é o baiacu-pintado, envolvido em todos os casos de envenenamento registrados no país. Já o baiacu-arara, embora menos tóxico, também requer cuidado rigoroso no preparo. As partes venenosas — fígado, pele, ovários e olhos — devem ser removidas com precisão técnica, o que inviabiliza seu manuseio por pessoas sem treinamento específico.
Em 2023, um incidente fatal envolvendo a ingestão de baiacu ocorreu em Aracruz, Espírito Santo, onde Magno Sérgio Gomes, de 46 anos, morreu devido à tetrodotoxina. Gomes consumiu o baiacu em 23 de dezembro, juntamente com um amigo que também apresentou sintomas, mas sobreviveu.
Outro pescado que pode matar
Outro alimento que apresenta riscos é o sannakji, um prato coreano preparado com tentáculos de polvo ainda em movimento, mesmo após o animal estar morto. A iguaria é encontrada em algumas localidades fora da Coreia do Sul, inclusive no Brasil.
O risco está nos reflexos persistentes das ventosas, que podem aderir à língua, garganta ou traqueia, ocasionando engasgamento e, em casos extremos, asfixia. Estimativas publicadas pela revista norte-americana Food & Wine indicam até seis mortes por ano associadas ao consumo do prato.