O consumidor brasileiro pode começar a perceber uma mudança no sabor do café produzido no país. Pressionadas por secas prolongadas e temperaturas mais altas, as tradicionais regiões cafeeiras que cultivam arábica estão encolhendo, enquanto o robusta (conilon) — mais resistente ao calor e com sabor mais intenso e amargo — avança em ritmo recorde.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção nacional de robusta cresceu 81% nos últimos 10 anos, superando de longe o ritmo do arábica.
Em regiões onde o arábica já não prospera, produtores estão migrando para o robusta ou adotando técnicas de sombreamento, plantando o café sob árvores nativas para reduzir o estresse térmico.
Nos últimos três anos, o arábica cresceu de 2% a 2,5% ao ano, enquanto o robusta avançou cerca de 4,8% ao ano. Em 2025, registrou ainda um salto histórico: quase 22% de aumento, de acordo com a consultoria StoneX.
A mudança, dizem especialistas, deve impactar diretamente o sabor das próximas safras.
O arábica é reconhecido por notas aromáticas mais suaves, acidez equilibrada e menor teor de cafeína. Já o robusta é naturalmente mais encorpado, amargo e com maior concentração de cafeína — características que tendem a influenciar blends e cafés consumidos em larga escala.
Receita da cafeicultura dispara
Apesar dos desafios climáticos, o setor vive seu melhor momento financeiro.
O Valor Bruto da Produção (VBP) dos cafés do Brasil atingiu R$ 114,86 bilhões em 2025, crescimento de 46,2% em relação ao recorde anterior, segundo dados do Ministério da Agricultura.
O arábica ainda lidera o faturamento, com R$ 82,96 bilhões, equivalente a 72% do total. Já o canéfora (robusta+conilon) somou R$ 31,89 bilhões, crescimento de 47,2% na comparação anual.
Ranking dos maiores produtores
- Minas Gerais – R$ 59,03 bi (51,4%)
- Espírito Santo – R$ 29,22 bi (25,4%)
- São Paulo – R$ 10,77 bi (9,4%)
- Bahia – R$ 7,81 bi (6,8%)
- Rondônia – R$ 4,27 bi (3,7%)
A região Sudeste concentra 87% de toda a receita da cafeicultura brasileira.
Uma xícara diferente no futuro
Com o avanço acelerado do robusta e a redução relativa do arábica em algumas áreas, especialistas acreditam que o café brasileiro — líder global em produção e exportação — deve mudar sensorialmente.
Blends mais intensos, sabores mais fortes e bebidas com perfil menos ácido devem ganhar espaço dentro e fora do país.




