Em meio à crescente disputa global por minerais estratégicos, os Estados Unidos avançam silenciosamente sobre um dos maiores ativos naturais do Brasil: as terras raras. Enquanto negociam com o governo federal a possibilidade de explorar diretamente essas reservas, os EUA já financiam, por meio de estatais e mineradoras transnacionais, empresas que atuam no país, ampliando sua influência sobre um setor considerado vital para a transição energética e a indústria militar.
Lítio, nióbio, cobre, manganês e as chamadas terras raras — um grupo de 17 elementos químicos de difícil extração e refino — tornaram-se peças-chave da economia do século 21. Esses minérios são essenciais para a produção de carros elétricos, painéis solares, smartphones, turbinas e equipamentos militares de alta tecnologia.
Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a demanda por esses insumos deve crescer 1.500% até 2050, ritmo muito superior à atual capacidade global de produção. Esse descompasso tem alimentado uma corrida geopolítica entre grandes potências.

Trump e a estratégia americana
Em março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto determinando a ampliação da produção de minérios críticos e terras raras, com o objetivo de reduzir a dependência externa. Hoje, os EUA ainda importam grande parte desses materiais, enquanto a China domina o setor, concentrando 60% da produção global e cerca de 90% do refino, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
A estratégia americana já passou por regiões sensíveis do mapa global. O caso mais emblemático foi o da Ucrânia: Trump condicionou a continuidade do apoio militar dos EUA à assinatura de acordos para exploração de minerais estratégicos no país em guerra com a Rússia desde 2022.
Investimentos indiretos no Brasil
Agora, o foco se volta para o Brasil. Enquanto coloca na mesa de negociações com Brasília a exploração direta das terras raras, o governo Trump atua de forma paralela, usando instrumentos financeiros para fortalecer empresas já instaladas no país.
Reportagem da Folha de S.Paulo revelou que a mineradora Serra Verde, a única em operação no Brasil dedicada às terras raras e a primeira fora da Ásia a produzir esses elementos em escala comercial, recebeu um aporte de US$ 465 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) do Development Finance Corporation (DFC), órgão financeiro do governo dos EUA.
Potencial brasileiro e dilema ambiental
O interesse estrangeiro se explica pelos números. Estimativas do U.S. Mineral Commodity Summaries indicam que o Brasil detém até 23% das reservas conhecidas de terras raras do mundo. Apesar disso, o país responde por menos de 1% da produção global, já que grande parte das jazidas está em áreas sensíveis, como a Amazônia.
O desafio, portanto, é conciliar o aproveitamento econômico desse potencial com a preservação ambiental em uma floresta já severamente degradada.
Nióbio e outros ativos estratégicos
Além das terras raras, o Brasil possui outro trunfo estratégico: o nióbio. O metal é usado em ligas de alta resistência aplicadas na siderurgia, construção civil, turbinas, trens de alta velocidade, baterias e no setor aeroespacial e militar, incluindo mísseis hipersônicos.
O país concentra cerca de 92% da produção mundial de nióbio, um recurso leve, resistente a altas temperaturas e que ganhou visibilidade nos últimos anos após ser defendido reiteradamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como um ativo estratégico nacional.



