Pouco mais de um ano e meio após a posse, o presidente argentino Javier Milei colhe indicadores econômicos positivos que vêm chamando atenção de analistas e organismos internacionais. Matthew Lynn, colunista do jornal britânico The Telegraph, chegou a se referir ao cenário como um “milagre argentino”, elogiando as reformas fiscais e o corte de gastos implementados pelo governo libertário.
Desde dezembro de 2023, Milei adotou a política de “déficit zero”, reduzindo despesas públicas, cortando subsídios, suspendendo obras e promovendo privatizações. As medidas resultaram em uma queda expressiva da inflação: de 25,5% ao mês e 211,4% ao ano no início do mandato para 1,6% e 39,4%, respectivamente, em junho de 2025, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
O PIB deve crescer 5,5% neste ano, após dois anos de recessão, e salários formais têm registrado aumento real. O FMI projeta que a Argentina terá o segundo maior crescimento entre as 25 maiores economias do mundo, atrás apenas da Índia, e destacou a “forte recuperação” do país.
O custo social do ajuste
Apesar dos resultados macroeconômicos, as medidas de Milei provocaram cortes significativos: redução de 62% nas transferências a províncias, 67% nos subsídios à energia, 38% nos recursos à saúde de aposentados e congelamento salarial de professores. As pensões sofreram forte perda de poder de compra, com aumento de apenas 27% frente a uma inflação acumulada de 60% desde dezembro.
Estudos privados indicam que a pobreza, embora tenha recuado em algumas medições oficiais, chegou a atingir cerca de 60% da população em determinados levantamentos.
Clima de tensão nas ruas
Nesta terça-feira, sindicatos, estudantes e professores de universidades públicas e privadas organizam manifestações contra o congelamento orçamentário e salarial na educação. A mobilização promete ser uma das maiores desde o início do governo e terá como foco a Casa Rosada, em Buenos Aires.
O governo classifica os protestos como “politizados” e não descarta aplicar protocolos para reprimir bloqueios. Para Milei, o ajuste é “o maior da história” e um “mandamento” inegociável. “Já percorremos mais da metade do caminho”, disse em rede nacional, defendendo que a “era do Estado presente” terminou.