Novo normal: Agro se destaca e mostra força em meio à pandemia

27 de agosto de 2020 às 0h19

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Crédito: Divulgação

DANIELA MACIEL e MICHELLE VALVERDE

Conhecido pela sua resiliência diante das mais graves crises econômicas e políticas, o agronegócio brasileiro também mostrou diante da Covid-19 sua capacidade de regeneração e, até, de crescimento, enquanto quase todos os outros setores foram gravemente afetados.

Dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) mostram que a participação do setor no PIB deverá crescer de 21% para 23%, entre 2019 e 2020. Nas exportações, o setor que antes representava 43%, já é responsável por mais de 50% do total.

A “Pesquisa nacional sobre o impacto da Covid-19 nos negócios”, realizada pela KPMG, apontou que, para 33% dos empresários do setor de agronegócio do Brasil, o faturamento das empresas que lideram deve aumentar entre 10% e 25% este ano.

Na avaliação do superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi – feita durante uma live promovida pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) -, mesmo com o cenário positivo, é preciso continuar abrindo novos mercados, incentivar o consumo interno e melhorar a conectividade no campo.

“Uma pandemia como essa deixa dor e perdas, mas traz ensinamentos também. A comercialização eletrônica veio para ficar e o produtor viu que precisa ter uma gestão profissionalizada. Além disso, é importante mantermos essa mobilização para continuarmos crescendo e tornar o Brasil cada vez mais competitivo”, disse Lucchi.

O “novo normal” do agronegócio brasileiro deve continuar tecnológico e protagonista no cenário mundial. Mas, para isso, será preciso continuar investindo em tecnologia e melhorar a comunicação para recuperar a imagem que anda um tanto arranhada no exterior. E aí, no “novo normal” ainda valerá a máxima de “quem planta, colhe”?

Agritechs favorecem digitalização

Grande legado é a aceleração das agendas positivas, diz Giovana Araújo | Crédito: Divulgação/KPMG

Seja oferecendo soluções da “porteira para dentro” ou da “porteira para fora”, as startups que se dedicam ao agronegócio – as chamadas agritechs – estão ajudando no processo de digitalização do campo.

Apesar de ocupar posição de destaque no mercado global e usar intensivamente recursos tecnológicos, o agronegócio comporta outras inovações e pode ter na tecnologia o apoio necessário para conquistar o chamado “capital verde” que promete jorrar a partir dos planos de recuperação da economia no pós-pandemia, principalmente dos europeus.

Para a sócia-líder de agronegócio da KPMG, Giovana Araújo, o grande legado desse período é a aceleração das agendas positivas, como a transformação digital. Segundo a “Pesquisa nacional sobre o impacto da Covid-19 nos negócios”, feita pela KPMG, com relação à previsão de faturamento para o ano que vem, 33% dos empresários do setor acreditam que também haverá um aumento de 10% a 25%. Para outros 33% deles as receitas das organizações devem crescer mais de 25% no próximo ano.

“A digitalização coloca o agro mais perto do consumidor final. E esse é um consumidor que associa o alimento à saúde, quer saber como é produzido. Então isso abre mais espaço para as agendas socioambientais. Temos já muitas empresas captando recursos dedicados à sustentabilidade. Todo esse movimento exige altos padrões de governança”, afirma Giovana Araújo.

Plataforma virtual Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a Grão Direto conecta agricultores, compradores, corretores e armazéns através de uma plataforma virtual, tornando a compra e venda de milho, soja, sorgo e outros grãos mais moderna e segura. O site também oferece informações como os preços médios de milho e soja de diversas regiões, além das principais cotações do dólar, BM&F, Bolsa de Chicago, e fretes para subsidiar as transações.

De acordo com o CEO da Grão Direto, Alexandre Borges, a localização geográfica entre os produtores das principais culturas exportadoras do Brasil – Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, São Paulo e Paraná – foi determinante para os primeiros passos da empresa.

“A agricultura já vive o futuro muito antes dele acontecer. O produtor colhe uma safra já pensando nas próximas. O Brasil tem crescido por um esforço para abrir novos mercados e aumentar a produtividade. O mercado de grãos cresceu muito no primeiro semestre, apoiado em bons preços e produtividade em bom nível. Surfamos nessa onda e, por causa da pandemia, houve um aumento da demanda por digitalização. Empresas compradoras que tinham dúvidas, tiveram que implantar seus projetos de digitalização. Do outro lado, muitos produtores buscando informação. O número de contratos digitais também aumentou. Os negócios com grãos geram muitos serviços para fora da porteira. No intuito agora é ampliar a jornada dos nossos parceiros, a comercialização é só o início”, explica Borges.

A C Junior: agricultor se profissionalizou | Crédito: Divulgação/Sensix

Monitoramento aéreo – Na vizinha Uberlândia, a Sensix é uma startup que atua da porteira pra dentro, fazendo o monitoramento aéreo e processamento e análise de dados para agricultura utilizando veículos aéreos não tripulados – os drones. Ela utiliza sensores multiespectrais para identificar padrões de reflectância nas plantações que representam anomalias específicas, podendo gerar indicadores precisos que contribuem para a tomada de decisão no manejo da lavoura.

Dentre os indicadores, já conseguiu identificar deficiência nutricional, nematoides, ataque de lagartas, ervas daninhas, fungos e falhas no plantio, proporcionando, em conjunto com técnicas de manejo direcionado, uma economia de insumos de até 30% e aumentando em até 10% a produtividade.

Segundo o diretor Executivo da Sensix, Antônio Carlos Junior, o Brasil não perde em nada em agritechs para o resto do mundo. “O agricultor tem se profissionalizado muito. Sou muito otimista porque temos muito a atuar no processo produtivo para aumentar o lucro com a aplicação de dados. O brasileiro é extremamente criativo e as startups se viram, se não tem 4G a gente faz redes de baixa latência. Lá fora eles estão acostumados com tecnologia. Isso nos habilita a competir internacionalmente. Não é à toa que os chineses estão comprando empresas no Brasil”, destaca Antônio Carlos Junior.

Produtores investem em vendas on-line

A crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19 impactou de forma menos severa o agronegócio de Minas Gerais frente às demais atividades econômicas. Com a demanda por alimentos em alta, o setor vem apresentando resultados positivos e produtores têm buscado novas formas de comercialização, comunicação e investindo em tecnologias e gestão. Todo o movimento provocado pela crise no setor traz boas expectativas para o pós-pandemia.

No considerado “novo normal” o agronegócio tende a manter a pujança, gerando resultados positivos, empregos e renda. Além disso, os produtores desenvolveram novos canais de vendas, principalmente on-line, que são considerados importantes para diversificar a atuação.

De acordo com o subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, o pós-pandemia para o setor é visto como promissor.

“O agronegócio de Minas Gerais tem apresentado resultados muito positivos, mesmo no cenário de pandemia. Neste ano, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) vem mantendo um ritmo de crescimento, frente a 2019, de 18% a 20%. As exportações movimentaram US$ 4,93 bilhões, uma expansão de 9,4% de janeiro a julho. Colhemos uma safra recorde de grãos e estamos com uma produção maior de café. No princípio do isolamento social, tivemos problemas na produção de leite e de queijo, o que foi rapidamente solucionado. Isso mostra que o setor está em uma condição muito boa, que deve ser mantida no pós-pandemia”.

Ainda segundo Albanez, com a diversidade de produção – passando pela cadeia de leite, café, grãos, frutas, hortaliças entre outros – foram registrados ganhos em valor, com a melhoria de preços para o produtor em função do aumento da demanda.

“Diante deste cenário e pensando no pós-pandemia, vemos que o setor não foi tão impactado. Vamos iniciar uma nova safra de grãos, com expectativas boas e de crescimento. Em relação ao mercado internacional, a demanda vinda da Ásia é crescente e embarcamos carnes, soja e açúcar, entre outros. O dólar em patamar bem atrativo também favorece a venda dos nossos produtos, que têm competitividade e qualidade”, explicou Albanez.

A retomada da economia mundial deve favorecer ainda mais o setor, uma vez que o ganho de renda da população tem como uma das principais prioridades o consumo de alimentos.

Aline Veloso: produtores se adaptaram | Crédito: Rafael Motta

Adaptação – Para a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, durante a pandemia, os produtores rurais precisaram se adaptar em várias etapas do processo produtivo. Além de cumprir novos protocolos para evitar a disseminação da Covid-19, foram criados de novos canais de comercialização. Dentre os setores que precisaram se adaptar estão os de hortaliças, queijos, frutas e doces, por exemplo.

“Além de ações junto aos sindicatos para aglutinar as vendas, que passaram também a ser feitas pelos canais on-line, como WhatsApp e redes sociais, foram criadas entregas delivery. Também estruturamos um catálogo apresentando produtos e produtores que participam das capacitações do Senar. Foram opções que encontramos para ampliar as oportunidades e que serão incorporadas ao processo”.

Ainda segundo Aline Veloso, os produtores se adaptaram rapidamente ao ambiente virtual, comercializando pela internet e se capacitando por meio de atividades on-line, já que os encontros presenciais estavam proibidos. As duas tendências devem se consolidar e gerar modelos híbridos no futuro.

Mesmo com os esforços, os desafios em relação à conectividade no campo e o fornecimento de uma energia de qualidade continuam sendo grandes desafios e prioridades para os representantes do setor.

Com a pandemia, as questões de sustentabilidade ganharam ainda mais importância. Tendências como o consumo consciente dos alimentos, redução do desperdício, uso dos insumos naturais com racionalidade, da irrigação e de sistemas mais adaptados, que já são realidades no campo, tendem a crescer ainda mais. A rastreabilidade também deve ser incorporada com maior ênfase no setor.

“A rastreabilidade é uma tendência e também realidade para muitos produtos, como a fruticultura e a cadeia da pecuária. O sistema CNA tem uma plataforma de rastreabilidade de raças bovinas e, isso, nos ajuda a comprovar a qualidade dos produtos, o modo de fazer e nos atesta qualidade em relação ao primor que o produtor imprime nas questões que ele desenvolve dentro das propriedades rurais”, disse Aline Veloso.

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