Passo de tartaruga

18 de fevereiro de 2020 às 0h02

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Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

As informações que vêm de Brasília aparentam possuir forte componente especulativo e, repetindo um vício que deve ter a mesma idade da capital federal, não raro sugerem proximidade com balões de ensaio que, segundo uma raposa política de tempos idos, ajudariam a sentir o clima e captar tendências. São observações que nos ocorrem a propósito das discussões sobre as reformas tributária e administrativa que, a rigor, se arrastam desde a redemocratização e que, no atual governo, chegaram a ser prometidas no ano passado. Reformas essenciais, necessariamente duras, e das quais muito se falou no recente Fórum Econômico Mundial, onde chegaram a ser apontadas como verdadeiro pré-requisito para que capitais internacionais, que andam à procura de pouso seguro, recoloquem o Brasil na sua rota, em volume suficiente para dar impulso relevante à retomada do crescimento.

São fatos objetivos e amplamente conhecidos, mas que infelizmente não guardam proximidade com os valores mais ardentemente cultivados em Brasília. As idas e vindas a respeito não deixam dúvidas. Deixando de lado referências, ou promessas, anteriores, caberia lembrar que foi ouvido nos corredores palacianos que a abordagem da importante matéria começaria pela reforma administrativa, a partir de proposta do Executivo que já deveria ter sido apresentada, seguindo-se a reforma tributária, esta destinada a ganhar a luz imediatamente depois dos feriados do Carnaval. Foi dito também que não haveria proposta governamental, ficando todo o assunto por conta do Legislativo, mas com o presidente da Câmara tratando de deixar claro que não deixaria o abacaxi cair no seu colo, enquanto do Planalto vinham sinais que, diante de temas tão sensíveis, talvez fosse preferível aguardar as eleições.

Tudo isso, ao que se percebe, para desespero do ministro Paulo Guedes, único que tem pressa e razões de sobra para isso, mesmo ignorando a liturgia de Brasília ou, talvez, já concluindo que novos hábitos e nova política pouco, assim como as mudanças prometidas, avançaram além das conveniências meramente eleitorais. Continua funcionando a velha política e sua crença fundamental de que é dando que se recebe. Nessas condições, como esperar que alguém ouse acabar com a estabilidade – e somente para novas contratações ou concursos ou traga de volta, para valer, a boa ideia de fundir municípios, aqueles que não têm receita própria para atender a suas necessidades mínimas, mas tem eleitores, ainda que poucos, e interessados, estes em maior numero, em votos e cargos.

Concluindo, nada de novo, nada que não deva ser atribuído em primeiro lugar ao sistema construído exatamente para gerar e manter esse monstrengo. E mais desanimador ainda é concluir que falta-lhes até inteligência que não existem meios para manter esta situação por muito tempo mais.

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