Opinião

[EDITORIAL] Banalização da mentira

O primeiro turno da eleição, particularmente no que disse respeito às votações majoritárias, foi consumido com a troca de acusações entre candidatos, num processo em que a verdade parece ter importado muito pouco ou nada. Esperava-se que fosse diferente no segundo turno, um processo de afunilamento que, por suposto, elevaria o tom dos debates, abrindo-se então espaços para discussões mais consistentes ou, pelo menos, relevantes. A rigor não foi o que aconteceu, continuando a prevalecer a troca de acusações e de ofensas, faltando tempo e espaço para uma conversa tão séria quanto o tamanho dos desafios que estão pela frente e para os quais é justo esperar que os vitoriosos tenham respostas.

A persistência desse quadro, em que os principais atores não parecem se dar conta da importância de seu papel, apenas expõe, ou confirma, a desconexão entre a órbita política e a realidade. Pior, exibe também a deterioração de valores que, por princípio, deveriam ser tomados como pilares da vida em sociedade, portanto da própria política. Como já foi exaustivamente repetido, faltam projetos, faltam propostas, como se todos assistíssemos a uma corrida em que o poder seria a única meta. Mudam as aparências, conforme sugerem alguns resultados do primeiro turno, mas não a essência em que valores tão elementares como a ética são postos de lado.

As campanhas, agora suportadas por poderosos instrumentos de comunicação, principalmente as ditas mídias sociais, tem como principal ferramenta a difusão de notícias falsas, de mentiras que visam denegrir opositores e confundir quem tem, no voto, a palavra final. Um fenômeno de proporções globais e consequências cuja gravidade ainda não tem como ser bem avaliada. Assusta, no entanto, lembrar que as eleições nos Estados Unidos ou a votação que levou os britânicos à decisão de abandonar a Comunidade Europeia podem ter sido contaminadas dessa forma e o mesmo se repete agora no Brasil.

Assusta muito constatar que, ainda agora, em nosso País, esteja sendo discutido quem usou e, sobretudo, quem pagou pela tecnologia que confunde e compromete o processo democrático, porém sem que se façam maiores considerações sobre a falta de ética, sobre a mentira transformada em algo tão banal quanto os “santinhos” que eram distribuídos no passado. Este seria o ponto crucial, não propriamente as máquinas capazes de distribuí-las, deixando no ar a impressão de que o golpe, desde que não seja descoberto, possa ser até aceitável, pelo menos inescapável nesses tempos modernos.

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De qualquer forma, será sempre oportuno indagar o que esperar de alguém – qualquer um deles – que abre dessa forma sua estrada para o poder.

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