Opinião

Chegada a hora da decisão

Cesar Vanucci*

“Depois da fala soberana das urnas, o país vai precisar do esforço de todos para enfrentar os desafios da retomada do desenvolvimento.” (Antônio Luiz da Costa, educador)

Nuvens acinzentadas, toldando os céus da pátria neste instante, denunciam desassossego no estado de ânimo popular na véspera de uma crucial decisão política. Esperamos sejam logo dissipadas. Revelem-se fugazes que nem estrondo de raio, não de estação chuvosa, mas de uma dessas “chuvicas de verão” noticiadas nas previsões de tempo trazidas pela charmosa Maju.

A temporada pré-eleitoral, praticamente finda, foi pontilhada por exacerbadas paixões. O processo democrático saiu chamuscado pelo tom exageradamente agressivo que prevaleceu nos entrechoques verbais da campanha. Ficou bastante nítido, aos olhares de argutos observadores da cena política, que um razoável contingente de pessoas, tanto numa quanto noutra vertente da contenda, revelou-se tendente a assumir posicionamento atípico diante da provocação das urnas. O voto a ser depositado não traduzirá, essencialmente, em numerosos casos, a prevalecerem as circunstâncias aludidas, categórica manifestação favorável a um determinado candidato ou a uma determinada causa, mas, apenas expressa aversão pelo adversário, ou por aquilo que, na avaliação crítica do votante, ele represente.

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Isso afetou o grande debate que deveria ter sido travado entre as correntes litigantes.

Debate ardentemente almejado, tendo em vista a magnitude do acontecimento político em foco e as questões relevantes para o destino do País tacitamente inseridas no contexto. Os programas, realizações, histórias de vida dos postulantes aos cargos em jogo foram, obviamente, arremessados para plano secundário. As intenções de voto de um bocado de cidadãos ficaram resumidas a tosca “explicação”: – Não estou do lado dele, não; o que não quero mesmo é que o outro lado ganhe…

O cortejo de situações desconcertantes estendeu-se em demasia. Fez grassar sobressalto nas ruas. Colidiu com a consciência cívica nacional. Deu pra perceber que muitos se inclinaram, de caso pensado, ao cometimento de atos belicosos. A troca de desaforos foi descomedida. Utilizadas como valas, escavadas longa e vastamente, as redes deixaram escorrer enxurradas de maledicências, falsidades no afã de denegrir reputações. Ameaças veladas e ostensivas, vociferações raivosas semeando ódio, discórdia e confusão, suspeitas pérfidas, pronunciamentos desrespeitosos alvejando as instituições republicanas ganharam propagação alarmante. Procedimentos impactantes ocuparam espaços que deveriam ter sido reservados, de acordo com os anseios gerais, à exposição das propostas e estratégias montadas pelos candidatos com o propósito de retirada do País da enrascada em que foi lançado. Enrascada que freou o desenvolvimento econômico e social, derrubou os índices do bem-estar comunitário e condenou legiões imensas de compatriotas à desdita do desemprego.

Reconheça-se ainda que o cancelamento dos tradicionais debates televisivos contribuiu, significativamente, para que não se fizessem explícitas, na escala desejada, as opiniões e os sentimentos dos pretendentes aos postos. Temas que frequentam assiduamente as preocupações da sociedade não puderam, por esse motivo, figurar numa agenda de discussões aprofundadas, intrínseca à saudável refrega democrática.

Chega, agora, a hora da decisão. Sabedores de que a democracia é um estado de espírito, uma lúcida definição de vida comprometida com valores humanísticos, um sistema fraternal de convivência e não de odiosa exclusão, um exercício pleno de apreço à liberdade, os eleitores vão ter que dialogar, na cabine indevassável, com sua consciência. Dizer, ao cabo, o que esperam seja feito adiante em prol de seu País. O somatório das vontades dos votantes sinalizará rumos. Está claro que a manifestação majoritária a emergir das urnas vai ter que ser por todos acatada. Ponto final da campanha.

A partir daí, um sopro vigoroso de esperança passará a reinar nos lares e nas ruas. Compenetrados de que a concepção solidária de vida constitui traço marcante da nossa cultura, os cidadãos de formação democrática, propensos ao diálogo respeitoso e prontos a colaborarem com sensata visão das coisas, se colocarão na expectativa da mobilização das forças vivas da Nação que as lideranças escolhidas serão instadas a promover no enfrentamento de angustiantes desafios. Falamos de uma tarefa urgente e necessária, a ser conduzida com grandeza de espírito e bem acima das discordâncias de ideias, para que o Brasil reencontre logo o caminho que possa levá-lo ao lugar de realce que, por mil e uma razões, lhe é reservado no cenário mundial.

* Jornalista ([email protected])

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