Opinião

Eleições, manifestação livre da vontade do cidadão

Num contexto marcado por um belicismo inédito, fica-se mais tranquilo quando se sabe que a democracia é um valor fundamental para, pelo menos, 60% dos brasileiros. E que empresários mineiros, em debate recente na ACMinas, para escolha do novo presidente, consideraram importante afirmar seu compromisso com a democracia e com a liberdade (DC 6/10/2018).

Todavia, as discussões têm partido, geralmente, de um pressuposto equivocado: entendem que a briga é entre extrema direita x extrema esquerda, igualando Bolsonaro e Haddad/PT e considerando o PT como um desastre para o País.

Ora, nesse processo de polarização ideológica e de belicismo desmedido que marca as eleições de 2018, nos vemos diante de sério perigo. Como bem advertiu Luiz Eduardo Soares (cientista político, especialista em segurança pública, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, autor de vários livros) “o país corre o risco iminente de sucumbir a um banho de sangue e ao esmagamento da democracia.” Aliás, a performance, o rosto marcado pela raiva, o discurso, tudo na figura do candidato que preconiza a “ordem e a segurança”. Bem sabemos que o corpo fala…refletindo a sua história, as emoções e os valores que o regem… Aliás, as práticas brutais anunciadas pela campanha já estão sendo aplicadas pelas brigadas patrióticas formadas pelos seus seguidores. Já ocorreram até mesmo vários assassinatos, além de brigas, discussões e incontáveis agressões a supostos opositores, sejam eles homens, mulheres ou negros e ou homossexuais. E isso não é exemplo de “cidadania ativa”, como quer um articulista. Pelo contrário, é exemplo claro e irrefutável de intolerância, desrespeito e belicismo, por parte de classes que se sentiram esquecidas e enganadas (classes E, D e C) com a perda de suas conquistas ou se viu perturbada com a volta do PT(classe média) tornando-se alvo fácil para as falas atiçadoras do capitão de reserva. O pior, como bem lembra Stefan Salej, é que essas classes tendem “a aceitar as palavras de ordem, de progresso, de segurança e de um estado organizado, sem saber bem o que estão aceitando” (DC 16/10/2018).

Acusar os dois lados e considerá-los como se fossem farinha do mesmo saco e igualmente antidemocráticos, “demonizar “ o PT, como se ele fosse o responsável por todas as mazelas deste País, como em geral faz a mídia nacional, é, além de uma desonestidade política e falta de responsabilidade, um erro crasso e um desconhecimento da história dos governos PT e da história recente do País (impeachment, governo Temer, corrupção, Sergio Moro etc etc etc ). Apesar de todos os seus erros ─ passados e recentes ─, o PT sempre foi uma força democrática, lutando pelo desenvolvimento soberano do País, pela justiça social, procurando, através de suas políticas econômicas, sociais e culturais, a melhoria das condições de vida das classes desfavorecidas, o bem-estar dos cidadãos e o respeito aos direitos humanos. Se acompanharmos a propaganda eleitoral de Fernando Haddad, suas entrevistas e discursos encontramos propostas claras, tanto no campo econômico como no social, no político e no cultural; e o chamamento ao respeito, ao amor e à paz. Candidato impecável, foi um excelente ministro da Educação; como prefeito de São Paulo, obteve resultados excelentes em diversas frentes. Além disso, é um democrata, político hábil, firme nas suas convicções e aberto ao diálogo, com tem mostrado nos últimos dias conclamando as forças progressistas de todos os partidos a se unirem no esforço de defender a democracia.

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Essa bipolarização e esse belicismo inaudito, com todas as suas consequências, impede a reflexão madura e, consequentemente, o aprofundamento da consciência política, levando a uma radicalização nefasta, que dificulta, por consequência, a concretização da democracia. E, sobretudo, afeta também a realização da manifestação livre que deve ser a característica essencial de toda eleição.

Não podemos esquecer que a imprensa internacional, seja ela de direita, de centro ou de esquerda, tem sido sempre crítica em relação ao perigo representado pelo candidato do PSL, que, segundo o The Economist ( penúltima semana de setembro), tem uma admiração preocupante por ditadura e é um grande admirador de Trump. Todos eles são unânimes que considerar o candidato como uma grave ameaça ao Brasil e à América Latina. Agora, nesse momento crucial para o nosso País, temos que nos colocar pela vida. E, portanto, pela democracia e pela liberdade.

“Pense bem antes de escolher; pense, a escolha será sua, mas não pense só em você. Você não está sozinho. Precisamos dar um lugar ao sol aos 38 milhões de brasileiros que vivem sem a dignidade de ter um emprego”, afirma Roberto Gusmão, presidente do Instituto de Educação Tecnológica (DC 5/10/2018). Precisamos respeitar a diversidade (de gênero, raça, formação, idade, etnia) e a multiplicidade de escolhas que cada pessoa pode fazer. A diversidade e o respeito, num clima de diálogo e liberdade, enriquecem qualquer ambiente (encontro sobre Governança Corporativa, em SP(DC 5/10/2018). Mesmo um liberal e direitista confesso como Reinaldo Azevedo pede aos democratas que votem contra o autoritarismo, já que o “2º turno não é plebiscito sobre Lula-PT, mas sobre as liberdades públicas e individuais”(FSP 13/10/2018).

* Doutora em Sociologia, professora aposentada da UFMG/Fafich.

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