Economia

Acordos bilaterais podem ser um novo caminho para o Brasil

Acordos bilaterais podem ser um novo caminho para o Brasil
Foto: Iconicbestiary

Fernando Valente Pimentel*

O telefonema do mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente eleito do Brasil, logo após a confirmação da vitória deste nas eleições, pode ser o início de uma nova relação comercial mais ampla e profunda entre os dois países. Embora ainda incipiente, esse primeiro aceno vai ao encontro de algo que Jair Bolsonaro tem defendido com ênfase em suas entrevistas à mídia e comunicados nas redes sociais: a intensificação de relações comerciais com nações que possam agregar valor à nossa economia e gerar empregos.

Sem dúvida, acordos bilaterais, em conjunto com o Mercosul, com economias como a norte-americana seriam mais benéficos para o Brasil do que uma abertura unilateral sem contrapartidas, como às vezes se preconiza. É inegável que nosso País precisa estar mais presente e interagir de modo mais intenso com o mundo no plano comercial, mas de maneira planejada e estruturada, avançando concomitantemente na agenda da competitividade e da produtividade e por meio de acordos internacionais que envolvam comércio, serviços e investimentos.

Nosso País, ou melhor, o Mercosul mantém impostos de importação coerentes com o grau de competitividade sistêmica que é oferecido atualmente às empresas instaladas nos quatro membros do bloco. Outra questão a ser considerada é a reciprocidade, especialmente num cenário global em que se assiste ao recrudescimento do protecionismo e no qual, portanto, precisamos garantir o acesso dos produtos brasileiros, principalmente com preferências tarifárias negociadas por meio de acordos.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Se, por um lado, não podemos nos considerar um país fechado comercialmente, tampouco devemos nos acomodar ao nosso presente estágio no mercado global. No tempo certo e sob as condições adequadas, precisamos almejar mais abertura e ampliação de nossos fluxos comerciais e de investimentos. Isso implica lições de casa profundas.

O País precisa desenvolver fundamentos eficazes para ampliar sua integração comercial internacional, sob risco de promovermos uma aceleração ainda maior da desindustrialização e agravarmos o sério problema do desemprego. Temos carga de impostos, inclusive sobre os investimentos, e juros reais entre os mais altos do Planeta; câmbio invariavelmente desfavorável às exportações; e infraestrutura deficiente e onerosa. Todos esses fatores são prejudiciais à competitividade.

Por isso, esperamos que o novo governo e legislatura do Congresso Nacional realizem com agilidade as reformas estruturais, como a tributária e a previdenciária, e o combate à burocracia e insegurança jurídica. Essas medidas são importantes para reforçar nossa capacidade de concorrer na economia global e não deixar nosso mercado fragilizado no contexto de uma intensificação do comércio exterior. Sem esses avanços, fragilizaríamos muito nossa indústria, que é bem estruturada e tem uma história concreta de competitividade intramuros, apesar do muito que ainda teremos de fazer para estar em linha com as profundas transformações representadas pela chamada Indústria 4.0.

Melhorar a capacidade brasileira de competir em patamares mais elevados no mercado global é uma tarefa árdua, importante e necessária. Obviamente, não podemos esperar a solução de todos os problemas para nos inserir no mundo. Porém, à condições mínimas de competitividade para subsidiar esse avanço. Relações bilaterais seguindo mecanismos de origem que estimulem a legítima e necessária integração produtiva com os Estados Unidos, como sinalizou Donald Trump, União Europeia e as fortes economias da Ásia podem ser um ótimo e promissor começo.

* Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas