[EDITORIAL] Será o fim de velhos hábitos?
Compreender a realidade é o primeiro passo para que ela possa ser transformada. Em Brasília, nos últimos dias, com o início dos trabalhos da comissão de transição, muito se tem falado a respeito, ficando no ar a impressão de que todos concordam que como está não pode ficar. Daqui e dali, aos poucos, vão surgindo indicações do que se pretende fazer e a partir de dois objetivos básicos: cortar despesas, remover tudo que for supérfluo e, como já prometeu o presidente eleito, cortar o que ele chama de “penduricalhos”, vantagens distribuídas ao longo do tempo e que, acumuladas, foram transformadas num vastíssimo programa de distribuição de renda tão evidente, tão claro, que fez de Brasília a cidade com maior renda per capita no País.
Está claro, claríssimo, que não dá mais para pagar essa conta e o problema de uma forma ou de outra vai estourar nas mãos do novo presidente. Falta saber se ele terá força e disposição para desmontar a engrenagem, em que políticos de maus hábitos se associaram às altas castas da burocracia para produzir o desastre em que o Estado se apropria de aproximadamente 50% de tudo que o País produz. É simples e, como diz o governador eleito de Minas, Romeu Zema, o carrapato ficou maior que o boi. Na realidade, a crise fiscal é uma bomba que já explodiu e não há como resolvê-la sem produzir contrariedade num primeiro momento.
Passada a euforia da vitória e das comemorações, chegada a posse em janeiro, o novo governo estará diante da obrigação de reduzir o déficit de suas contas e ao mesmo tempo o tamanho da dívida que carrega. Não será fácil num país que passou três décadas ou mais buscando construir uma sociedade de bem-estar social, enquanto suas receitas não cresciam, pelo menos, na mesma proporção dos gastos. Uma tarefa descomunal a ser cumprida num ambiente político também desfavorável em que não será exagerado afirmar que o próprio sistema de governo, considerados os três poderes, ficou disfuncional.
Todo esse quadro, que a rigor não contém elementos novos e sim distorções que foram se acumulando ao longo do tempo, provocou a indignação que ajudou a eleger o novo governo, à frente o presidente Jair Bolsonaro. E dele se espera que tenha consciência de quanto mais tempo deixar passar, maior será a conta e mais difíceis as soluções, sobretudo para quem promete não se curvar ao “toma lá dá cá”, transformado em norma de conduta na política que ele diz repudiar.
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Assim, enquanto a transição avança e a contagem regressiva para a posse é iniciada, a grande interrogação diz respeito à real capacidade de articulação do futuro presidente.
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