Economia

Do Oriente Médio

Stefan Salej*

O Brasil é provavelmente o país fora da Europa com maior população de origem dos países do Oriente Médio no mundo. Em especial, população de origem árabe. Temos um Líbano inteiro aqui e o atual presidente do país é filho de pais libaneses e primeira geração de sua família nascida no Brasil. A Síria tem em Belo Horizonte um dos mais antigos consulados honorários, sempre dirigido pela lendária família Cadar. Em São Paulo tem uma belíssima catedral ortodoxa síria. Ministros, governadores e, em especial, empresários como Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, são de origem árabe. A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira é, sem dúvida, das mais ativas promotoras do comércio entre esse bloco de 33 países e o Brasil.

Este ano a comunidade judaica está celebrando 70 anos da fundação da Confederação Israelita Brasileira, a Conib, aliás a ser celebrada com palestra do filósofo francês-judeu Bernard-Henry Levy. Bem ao estilo do povo do livro. No Brasil há mais de 100 mil judeus espalhados pelos quatro cantos e que tiveram papel fundamental no desenvolvimento não só da Amazônia, mas da indústria, educação e serviços no Brasil. Lendário presidente da Federação do Comércio de São Paulo é Abrão Sczaiman, cujos trabalhos no Sesc são marca cultural brasileira.

Essas comunidades dão uma contribuição, como também outras, fundamental para o crescimento do País. Veja os dois principais hospitais de São Paulo: Einstein e Sírio-Libanês. Um da comunidade judaica, outro da comunidade árabe. E todos convivem como primos, brigando e brincando, mas todos brasileiros.

Os problemas que o Oriente Médio enfrenta, guerras de facções, pelo poder, disputas de grandes potências, guerra pelo petróleo e tantos outros conflitos, estão longe de acabar, a não ser quando afetam famílias e negócios. O assassinato de um jornalista saudita em Istambul é para nós um filme de horror visto ao vivo. A briga do Irã com os Estados Unidos, apesar de haver importante presença de iranianos em Minas, é briga deles, que impede de vendamos mais para o Irã. Os massacres no Iêmen, só na CNN, para quem assiste.

A lendária presença da Mendes Jr. no Iraque e Mauritânia já foi esquecida. O sucesso da Andrade Gutierrez na Líbia acabou fazendo parte da decadência da construtora, como do próprio País.

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A recente batalha entre Israel e facção belicista dos palestinos em Gaza, Hamas, que quase virou guerra, foi posta do lado pelas repetidas declarações do novo governo de que a capital de Israel é Jerusalém e não Tel Aviv. E a ameaça dos países árabes de que vão deixar de comprar nossa carne, o Brasil é o maior produtor mundial de carne com corte exigida pelas leis islâmicas, Halal, quase se realiza, com o cancelamento de visita do Chanceler brasileiro ao Cairo.

Estamos longe dos conflitos, mas foi o Chanceler brasileiro Oswaldo Aranha que presidiu em 1948 a Assembleia Geral da ONU que declarou a fundação do Estado de Israel. Nem tão longe estamos que nada nos interessa, como uma guerra sem fim e com consequências trágicas, como a da Síria. Estamos longe, mas fazemos parte sim desse Oriente Médio difícil de entender e compreender. De um jeito ou outro, mexer naquele tabuleiro sempre é um problema.

* Ex-presidente do Sebrae Minas e da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

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