Executivo da Nissan é preso por sonegar salários

Tóquio – O brasileiro Carlos Ghosn foi detido ontem em Tóquio, segundo a mídia japonesa, depois que a montadora Nissan o acusou de “significativos atos” de má conduta e revelou que vai demiti-lo da presidência de seu Conselho de Administração.
A acusação é um forte golpe para o legado de Ghosn, que tem 64 anos e é considerado responsável por salvar a Nissan de uma situação de quase falência a partir de 1999. O escândalo ameaça ainda o futuro da aliança entre a Nissan e as parceiras Renault e Mitsubishi Motors. Ghosn também é executivo-chefe da Renault e presidente do conselho da Mitsubishi.
Segundo investigação interna da Nissan, Ghosn teria reduzido o valor declarado de seus salários em 5 bilhões de ienes (US$ 44,3 milhões) em declarações feitas ao longo de “muitos anos”. Ele supostamente contou com a ajuda de um executivo da empresa para cometer a irregularidade.
No ano passado, Ghosn recebeu um total de 962 milhões de ienes (US$ 8,5 milhões) em espécie e ações por suas posições na Nissan e Mitsubishi, segundo dados das empresas. Já a Renault pagou 7,4 milhões de euros (US$ 8,4 milhões) a Ghosn em 2017.
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Ghosn teria infringido outras normas de conduta, como o uso pessoal de ativos da Nissan, informa a empresa em comunicado. A Renault tem fatia de mais de 43% na Nissan, enquanto a empresa japonesa possui 15% das ações da montadora francesa.
A montadora japonesa informou que, com base em um relatório de denúncias, estava investigando possíveis práticas ilegais por Ghosn e pelo diretor-representante Greg Kelly por vários meses, e que estava cooperando totalmente com os investigadores.
“A investigação mostrou que, durante muitos anos, tanto Ghosn quanto Kelly relataram valores de remuneração no relatório de valores mobiliários da Tokyo Stock Exchange que eram menores do que a quantia real, para reduzir a quantia divulgada da remuneração de Carlos Ghosn”, disse a Nissan em um comunicado.
A Nissan informou que o presidente-executivo, Hiroto Saikawa, vai propor ao conselho da montadora que remova Ghosn e Kelly.
Queda nas ações – As ações da Renault chegaram a cair 13% em Paris, entre as que apresentaram pior desempenho na Europa. Às 11h20, os papéis tinham baixa de 10,3%.
A saída de Ghosn deve levantar questões sobre o futuro da aliança que ele pessoalmente moldou e se comprometeu a consolidar e aprofundar, antes de finalmente se afastar de sua liderança operacional. “A reação inicial ao preço das ações mostra como ele é fundamental”, disse ontem o analista do Citigroup, Raghav Gupta-Chaudhary.
A atual estrutura de alianças há muito desvalorizou as ações da Nissan detidas indiretamente pelos investidores da Renault, acrescentou. “Ghosn é visto como crítico para o desbloqueio de valor”, ressaltou.
As notícias chocaram o Japão, onde Ghosn, um raro executivo de alto escalão estrangeiro, é bem visto por ter tirado a Nissan da beira da falência. O jornal Asahi informou em seu site que os promotores japoneses começaram a revistar os escritórios da sede da Nissan e outros locais na noite de segunda-feira.
Os porta-vozes da Renault e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Motors não retornaram imediatamente as ligações e mensagens em busca de comentários sobre os relatórios de detenção.
Nascido no Brasil, descendente de libaneses e cidadão francês, Ghosn iniciou sua carreira na Michelin na França, seguindo para a Renault. Ele se juntou à Nissan em 1999, depois que a Renault comprou uma participação controladora e se tornou presidente-executivo em 2001. Ghosn permaneceu nesse posto até o ano passado.
Em junho, os acionistas da Renault aprovaram a remuneração de Ghosn de 7,4 milhões de euros para 2017. Além disso, ele recebeu 9,2 milhões de euros em seu último ano como presidente-executivo da Nissan. (AE/Reuters)
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