Economia

Emissão de CNH tem queda mensal de 32%

Emissão de CNH tem queda mensal de 32%
Carros em trânsito durante hora do rush em São Paulo, Brasil - REUTERS/Nacho Doce

São Paulo – A emissão de carteiras de motorista no Brasil deve cair pelo quarto ano seguido em 2018, em um movimento que começa a causar preocupação na indústria de veículos e que é fomentado não só pelo custo elevado de obtenção do documento, como também por uma grande mudança nos hábitos de locomoção das novas gerações, principalmente em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.

De 2014 a 2018, a média mensal de emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) caiu 32%, para cerca de 170 mil documentos. Em 2014, essa média era de 250 mil emissões por mês, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) compilados pela Reuters.

“O brasileiro está começando a mudar o hábito de ver o carro como um bem durável e os aplicativos de mobilidade ajudaram muito. No geral, principalmente para o público mais jovem, o carro está começando a ser visto pelo serviço que ele oferece, não pelo que ele representa em status social e isso, com certeza, impacta no número de emissões de CNHs”, afirmou a especialista em indústria automotiva e professora da Unicamp Flávia Consoni.

De olho na queda de emissão de novas carteiras de motorista, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), decidiu pela primeira vez contratar uma pesquisa para saber o nível de interesse dos jovens em comprar seu primeiro carro. A pesquisa, realizada pela startup Spry e publicada no início do mês, mostrou que os jovens de até 25 anos de idade, que formam a chamada “geração Z”, estão utilizando outros meios de locomoção, como metrô, bicicleta e aplicativos de transporte, de forma mais intensa que as gerações anteriores e, consequentemente, usando menos carros particulares.

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O levantamento da Spry apontou que 25% dos entrevistados da geração Z utilizam aplicativos de transporte como Uber, 99 ou Cabify, uma ou duas vezes na semana e 13% afirmam utilizar sempre.

Em linha com a pesquisa, as emissões de CNHs entre esse público caíram 24,8% este ano, depois de já terem recuado 7% em 2017. “Não acho que as pessoas estão desistindo, mas postergando o ato de tirar carta e isso se deve tanto pela questão da demora que o processo de emitir o documento possui, quanto pelo custo”, disse a pesquisadora da Unicamp.

O investimento médio para tirar a primeira habilitação no Estado de São Paulo varia entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, podendo divergir entre a capital e as cidades do interior, segundo o sindicato paulista de autoescolas e centros de formação de condutores (Sindautoescola). O custo se compara ao rendimento médio dos trabalhadores do Estado, de cerca de R$ 2,8 mil mensais, segundo dados do terceiro trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral (Pnad).

Desinteresse – A queda do número de novas CNHs vista a partir de 2014 pode ser associada à crise econômica do país, afirmou Flávia Consoni, da Unicamp. “Hoje é muito mais caro tirar carta do que era há 18 anos… Acho que o que está acontecendo é uma falta de interesse de quem compõe esse número e quem realmente precisa ficar atenta a isso é a indústria de veículos.”

Para Pedro Facchini, diretor da Spry, as gerações mais novas continuam tendo desejo por ter carro, o conceito de propriedade se transformou ao longo dos últimos anos. “O sentimento de posse mudou muito. Os mais novos entendem hoje que têm um carro quando apenas têm acesso a um veículo de alguma forma”, disse ele, referindo-se a situações em que o carro da família é considerado como de propriedade pelo jovem. “Hoje, ter carro não é mais sinal de status ao longo das gerações”, acrescentou. (Reuters)

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