[EDITORIAL] Falar é mais fácil que fazer
Um candidato diferente, distante da política tradicional, pronto para ousar e desmontar os erros que foram se acumulando anos a fio. Mesmo tendo sido parlamentar por mais de 20 anos, Jair Bolsonaro se apresentou como a negação dos políticos e da política tradicional. Convenceu e venceu com larga folga. Nesse momento, e como é de costume, aparentemente não lhe faltam aliados e já há quem afirme que seu partido poderá ser a maior bancada na Câmara dos Deputados.
Nada afinal que surpreenda, inclusive, ou principalmente, os movimentos mais comedidos do candidato eleito, bem percebido nos primeiros movimentos visando à formação da equipe que integrará o primeiro escalão. A promessa era de que não haveria política nas escolhas, que seriam orientadas exclusivamente pelo mérito. Mas Bolsonaro e seus próximos estão negociando, estão tratando de construir a tal base parlamentar e, nessa obra, aparentemente, não fogem do convencional. Da mesma forma, chamam atenção as idas e vindas em torno da redução dos ministérios, outra situação típica sempre que muda governo.
Bolsonaro prometeu ser radical, chegou a sugerir que o número de ministérios seria reduzido à metade. Dificilmente cumprirá o prometido e não parece descartada a possibilidade de que, ao contrário, venha até a criar novas pastas. Resta aguardar e, enquanto isso, alertar para um outro lado da questão. Cortar ministérios tem efeitos simbólicos relevantes e ajuda na propaganda, mas pode, no final das contas, contribuir muito pouco para a tão necessária redução de despesas. É preciso ficar atento, e ao estilo do futuro presidente, ser duro. Afinal, e ao estilo brasileiro, é bem possível que tudo se acomode, sem que se produzam mudanças.
Já dissemos aqui que a criação de um ministério não indica, objetivamente, que este ou aquele setor estão prestigiados. O movimento contrário, por outro lado, pode não ser acompanhado de redução de gastos. Funcionários mudam de posição, repetem-se as artimanhas próprias de serviço público, e tudo continua como está, numa acomodação que não se tenta nem mesmo disfarçar. Negociações políticas e acordos com partidos, no velho processo de troca de favores, sugere e alimenta este risco, em que os discursos vão se tornando menos incisivos até que desapareçam. Afinal, alguém já disse que fazer campanha e pedir votos é uma coisa, governar é outra e bem diferente.
Acontece que o Brasil não tem tempo e não resiste porque a corda já foi esticada além do limite. Não há porque duvidar das intenções do presidente eleito, mas é preciso que ele tenha cuidado, saiba que pisa em terreno minado, e que todos os interessados na construção de um país melhor, estejam agora unidos na mesma causa, no mesmo objetivo de fazer melhor. Afinal não foi exatamente o que todos prometeram durante a campanha?
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