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MG estimula produção de bioquerosene

Com foco na sustentabilidade ambiental e em permanente debate com parceiros públicos e privados, o governo do Estado se movimenta para fortalecer a pesquisa e preparar Minas Gerais para se transformar em grande produtor de bioquerosene a partir da macaúba.

Essa palmeira nativa das florestas tropicais – que têm forte presença no Norte e no Sudeste do País – vai se mostrando, de acordo com estudos, como a matéria-prima ideal para transformar Minas Gerais em grande produtor de bioquerosene e capaz de atender empresas do setor aéreo.

Dois convênios articulados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes), assinados pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), deram a largada para o desenvolvimento do projeto de produção do bioquerosene.

O primeiro, no valor de R$ 2,2 milhões, assinado pela Codemge e UFMG, publicado em 11 de julho, destina-se à aquisição dos equipamentos para o primeiro laboratório brasileiro de certificação para querosene fóssil e bioquerosene. A compra já se encontra em andamento, obedecendo os princípios da legislação.

O segundo convênio, publicado em 7 de novembro, diz respeito à compra e instalação da planta-piloto com orçamento de R$ 1.982.352,90. Porém, ainda é preciso aguardar a liberação do recurso para iniciar o processo de compra. Assim, os recursos dos dois convênios chegam a quase R$ 4,2 milhões em duas etapas da parceria.

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Ineditismo e inovação – Toda a estrutura prevista nos convênios fará parte do Laboratório de Ensaios de Combustíveis (LEC-UFMG), do Departamento de Química da universidade, cujas pesquisas são coordenadas pela professora Vânya Márcia Duarte Pasa. Segundo ela, os convênios significam muito, tanto para a pesquisa dos biocombustíveis, quanto para os serviços tecnológicos destinados às empresas.

“A primeira parte dos recursos está sendo investida em infraestrutura para análise e certificação da qualidade dos combustíveis para aviação, envolvendo os fósseis e os alternativos de forma completa, algo inédito no Brasil e na América do Sul”, explica Vânya Pasa. Ela lembra que a primeira fase do laboratório de certificação foi iniciada há três anos com a participação da fabricante de aviões Boeing, que aportou recursos no projeto.

Com os recursos da Codemge foram adquiridos 13 equipamentos lançados recentemente no mercado mundial. Todos vão complementar o que existe no LEC, sendo alguns desses instrumentos, únicos no Brasil. A expectativa é de que os instrumentos de certificação estejam no laboratório da UFMG até o início de 2019.

A partir daí haverá implantação das metodologias, calibração, elaboração dos procedimentos operacionais, treinamento da equipe e participação em programas de intercomparação de resultados da American Society for Testing and Materials (ASTM), o que vai durar todo o ano de 2019.

Posteriormente, o LEC pede acreditação dos ensaios ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), de acordo com a norma ISO/IEC 17025, essencial a um mercado global, como o da aviação.

O laboratório mineiro tem experiência de quase 20 anos em análises de combustíveis, possui acreditação na norma ISO 17025, que garante credibilidade internacional para atender demandas do Brasil e do exterior, bem como apoiar grupos de pesquisa e órgãos de fiscalização no setor de aviação.

“Os novos equipamentos permitirão acelerar o desenvolvimento de pesquisas em todo o País na área de bioquerosene para aviação, uma vez que esse biocombustível requer parâmetros de qualidade rígidos e difíceis de serem alcançados”, observa a pesquisadora.

Recursos vão custear a planta – A planta-piloto projetada será fundamental na atração de investidores interessados em produzir bioquerosene em Minas Gerais, pois a partir dela será possível testar processos e gerar dados para unidade de maior porte, pré-industrial ou industrial. A unidade será mais um passo para o desenvolvimento de tecnologias nacionais.

A instalação da planta ainda não tem cronograma definido, pois os recursos ainda precisam ser liberados pela Fapemig para que seja acertada a encomenda de fornecedores no exterior. Mesmo assim, as especificações técnicas estão sendo discutidas para que haja agilidade tão logo o dinheiro esteja disponível. Mesmo de pequeno porte o equipamento demora meses para ser fabricado, transportado e instalado.

“Esperamos utilizar a planta-piloto para as pesquisas do nosso grupo e disponibilizá-la a empresas e pesquisadores de outras universidades, com compartilhamento dos custos de manutenção ou de insumos. Temos uma Lei de Inovação que nos permite partilhar esta infraestrutura, o que deverá atrair desenvolvimento econômico para Minas Gerais”, aposta Vânya Pasa, da UFMG.

Carlos Malta, da Sedectes, responsável por manter o grupo de parceiros mineiros unidos pelo projeto, reforça que a expectativa do governo de Minas Gerais é ampliar a estrutura do laboratório da UFMG – que concentra a inteligência – para ampliar pesquisas e ao mesmo tempo atrair grandes investidores interessados na fabricação do bioquerosene em escala industrial.

“Assim, Minas Gerais caminha para atender o mercado da aviação comercial. A empresa Gol Linhas Aéreas, por exemplo, já se comprometeu com a compra de todo o bioquerosene a ser produzido no Estado”, afirma Carlos Malta, coordenador do Plano de Desenvolvimento da Plataforma Mineira de Bioquerosene e Renováveis e diretor de Modais Logísticos da Sedectes.

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