Turismo perde status de secretaria no Estado

A extinção da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais (Setur-MG) e a subsequente ida das suas atribuições para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes), embora esperada, foi recebida com ressalvas pelo trade.
Justo quando um mineiro, o deputado pelo PSL, Marcelo Álvaro Antônio, assume o Ministério do Turismo (Mtur), o fim da Setur-MG é visto com angústia e como uma oportunidade perdida por alguns. Por outro lado, a reversão da pouca visibilidade e do baixo orçamento dedicado à antiga Setur-MG é a esperança de outros.
Pouco antes do primeiro turno das eleições, o DIÁRIO DO COMÉRCIO perguntou aos, então, candidatos que importância eles davam ao turismo. Sem entrar em detalhes de como seria a sua política para o setor, Romeu Zema, que ainda não aparecia com destaque nas pesquisas de intenção de votos, respondeu:
“Uma importância fundamental, pois aumenta o consumo e a produção de bens e serviços e, consequentemente, gera mais e novos empregos. Embora nosso Estado possua um potencial extraordinário, é de se convir que somente isso não basta para que a atividade se desenvolva. A falta de planejamento pode destruir. Nos últimos anos, Minas Gerais apresentou queda do volume na atividade turística. De 2010 a 2014, apenas 10 entre os 853 municípios mineiros acumularam 60% do Valor Adicionado do Turismo na nossa economia. Governos passados tentaram fomentar a maior distribuição de receitas do setor entre os municípios, organizando-os para gerar oportunidades de negócios e empregos, mas não houve sinais de melhora. Não há como desenvolver o turismo com um estado hipertrofiado como é hoje. Somente por meio do enxugamento da máquina pública, da concessão de serviços – principalmente os relacionados à infraestrutura – e da simplificação da carga tributária será possível chegar na estabilidade econômica e, assim, atrair investimentos para alavancar o turismo em Minas”.
Para o coordenador regional em Minas Gerais da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Marcos Valério Rocha, a mudança é uma boa indicação de que o setor será tratado pelo novo governo como uma atividade econômica importante para a geração de empregos, aumento da renda e crescimento econômico.
“Esperamos que o secretário adjunto seja um profissional de mercado, com experiência e de comprovada competência. É fundamental que o governo Zema, mesmo diante de uma situação econômica catastrófica, disponibilize recursos para a promoção turística de Minas Gerais, nacional e internacionalmente. Sem investimentos na divulgação e promoção dos nossos atrativos, fica muito difícil competir com os outros destinos nacionais e internacionais”, analisa Rocha.
No mesmo sentido, a diretora-executiva da Associação do Circuito Turístico do Ouro (CTO), Isabella Ricci, faz a sua avaliação. O Circuito reúne alguns dos atrativos turísticos mais importantes do Estado, incluindo dois patrimônios culturais reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): a cidade histórica de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Fazem parte do CTO as cidades: Barão de Cocais, Caeté, Catas Altas, Congonhas, Itabira, Itabirito, Mariana, Nova Era, Nova Lima, Ouro Branco, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima, Sabará e Santa Bárbara.
“A minha preocupação é muito maior com o que vai ser feito, com a forma como o setor vai ser encaminhado, do que em ter uma pasta exclusiva. No Desenvolvimento Econômico, com orçamento maior pode ser melhor do que o que tínhamos antes. Temos que ficar livres dessa vaidade de ter uma secretaria exclusiva, com bons técnicos, mas que não pode fazer nada por falta de estrutura. Talvez seja melhor estar lotado em outra pasta, mas com um posicionamento mais estratégico. A minha preocupação é se isso vai, mesmo, acontecer e como”, pondera Isabella Ricci.
Minas Gerais, dona de um dos acervos histórico-culturais mais importantes do País e de uma natureza generosa, que reúne três diferentes biomas – Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga -, apresenta um grande potencial para o turismo. Dividida em 47 circuitos turísticos, que obedecem as legislações estadual e federal de regionalização, tem na gastronomia o carro-chefe da divulgação e promoção do Estado como destino nacional e internacional.
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Representatividade – Apesar de toda essa riqueza, o turismo representa pouco na produção de riquezas dominada por setores tradicionais, especialmente a mineração, a siderurgia e o agronegócio. A própria estrutura turística é um grande desafio para gestores públicos e privados. De acordo com o Censo Turismo 2017 realizado pela Setur-MG, publicado em abril, em relação à Promoção Turística, 68% dos respondentes afirmaram possuir banco de imagens e 55% sites promocionais dos destinos. Porém, ferramentas mais robustas como a realização de um plano de marketing foi apontada como existente por apenas 12% dos municípios.
A disponibilização de informações também é um grande gargalo. Estruturas simples como um centro de atendimento ao turista não existem em 77,1% dos municípios. 56,6% dos respondentes afirmaram não existir material promocional do município. O maior ponto de atenção foi detectado no eixo de Monitoramento e Pesquisa. Observou-se que os municípios ainda enfrentam obstáculos para um levantamento eficiente de informação, tais como obter dados do perfil dos turistas ou número de empregados do setor, em que apenas 13% e 6,7% dos municípios, respectivamente, afirmaram possuir um monitoramento.
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