A retomada do desenvolvimento
José Eloy dos Santos Cardoso*
Voltar a crescer e desenvolver em qualquer economia não é tarefa fácil como pode parecer. E o Brasil não foge à regra. Em qualquer economia, os investimentos em bens de capital servem para duas coisas: para repor a depreciação do capital que se desgastou ou existiu ou aumentar a capacidade de produzir o produto que são bens e serviços para atender necessidades de consumidores internos ou externos. Se o investimento foi feito só para entrar no lugar do capital que foi depreciado para que a capacidade de gerar o produto não diminua, é costume se dizer que se realizou só um “voo de galinha”.
No caso brasileiro, os elementos macroeconômicos explicam que foi muito modesta a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 de apenas 1% e, mesmo assim, foi impulsionado pelo setor exportador que conseguiu crescer 5,2%, sendo que a expansão ficou estagnada em 0,2%. Para 2018, as exportações sofreram uma desaceleração motivada, entre outros fatores, pelas diminuições de compras chinesas que já mantinham um considerável estoque de matérias-primas como o minério de ferro.
O setor exportador brasileiro é um tanto quanto frágil e dependente daquilo que ocorre em países como a China, que é hoje o principal importador de produtos brasileiros. Com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais vai ainda sentir os efeitos desse desastre. O setor exportador de alguns produtos é vulnerável. Na Argentina, por exemplo, que é a principal importadora de automóveis feitos no Brasil, basta que diminua suas importações de automóveis brasileiros para que o setor exportador desse produto, inclusive, peças para reposição de veículos, sofra os efeitos. Nosso país não pode se iludir com o saldo comercial do ano de 2018, porque os produtos primários exportáveis, por exemplo, possuem bases muito frágeis e preços de elevada volatilidade.
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No caso da demanda doméstica, alguns elementos reforçam a tese da fragilidade da retomada do crescimento econômico brasileiro. No ano passado, a expansão pode ser atribuída à venda de produtos duráveis. O índice de comércio da Serasa apontou que, até outubro, houve uma expansão de 12,9% na venda de móveis, eletrodomésticos, eletrônicos e informática. Na venda de veículos, motos e peças houve aumento de 7,4%.
Em contrapartida, na venda de vestuário, calçados e acessórios houve retração. O crescimento observado em outros setores foi diferenciado. Após quedas consecutivas desde 2014, é natural que parte dos equipamentos produtivos se torne obsoleta com alto nível de desgaste e requeiram reposição.
Uma retomada contínua dos investimentos depende de projetos em expansão da capacidade produtiva. É bom se considerar que, na economia brasileira, ainda existe uma razoável capacidade ociosa instalada. Enquanto houver desemprego de fatores de capital e a capacidade produtiva ainda instalada não estiver plenamente utilizada, os novos investimentos não deverão ocorrer. Só em alguns casos deverá haver novos investimentos. A capacidade instalada no Brasil ainda esbarra em 75,3% de utilização.
Tanto no âmbito interno quanto no externo a capacidade de se retomar o crescimento ainda vai depender da questão de se utilizar aquilo que está ainda instalado. O desenvolvimento ainda vai levar algum tempo para acontecer. O nível de emprego da mão de obra com carteira assinada ainda teima em se manter em 12,5% de desemprego, como mostram estatísticas confiáveis. Os investimentos em novos projetos ainda vão ter que esperar.
Um dos setores que poderá a curto prazo melhorar os níveis de desemprego é o setor da construção civil. Mesmo assim, esse importante setor ainda possui um elevado número de moradias construídas, mas ainda sem ocupação. É urgente, portanto, uma eficaz agenda de investimentos públicos ou privados. Caso contrário, o crescimento e o desenvolvimento brasileiros ainda dependerão de impulsos esporádicos e menos dependentes da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
- Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista
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