Estudo vai apurar tragédia e avaliar barragens

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) começa hoje um estudo aprofundado e inédito sobre a situação das barragens de rejeitos de mineração existentes no Estado. O objetivo da entidade é identificar as reais causas que levaram ao rompimento da estrutura da barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e, ao mesmo tempo, avaliar as condições e métodos de construção dos demais reservatórios mineiros.
Para isso, a Fiemg pretende contar com as próprias empresas de mineração, entidades de engenharia, governo e órgãos ambientais. “Antes de falar em mudanças na legislação, é preciso rever a área técnica da engenharia deste tipo de construção. Existe alguma brecha na qualidade técnica de avaliação da segurança dessas barragens que precisa ser revista”, alertou o presidente da federação, Flávio Roscoe, em coletiva de imprensa.
Segundo ele, embora ainda não haja um cronograma definido nem um prazo para conclusão, o estudo vai contar com especialistas que vão aprofundar a discussão técnica a esse respeito. A proposta também incluirá a discussão dos métodos de análise e fiscalização dos reservatórios. Tudo isso para se chegar a uma solução definitiva para a segurança das barragens, conforme o dirigente.
“Sobre os métodos, vamos avaliar quais existem e são seguros ou não. E, a partir daí, gerar um novo diagnóstico dessas barragens, porque o existente já mostrou que é falho”, reiterou.
De toda maneira, Roscoe ponderou que é necessário um trabalho racional para que se possa atuar no problema e mitigar o impacto econômico que algumas mudanças poderão trazer. “É preciso entender, por exemplo, que milhares de pessoas em Minas Gerais dependem do setor mineral e que a atividade é de suma importância para a economia do Estado. Mas precisamos encontrar formas de fazer a extração com a maior segurança possível”, completou.
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PIB – Em relação aos impactos que o rompimento da barragem 1 da mina Córrego do Feijão traz para Minas e o Brasil, além das 165 mortes confirmadas e das 155 pessoas ainda desaparecidas, haverá também o impacto de 1,8% no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em 2019.
De acordo com o presidente da Fiemg, com isso, a estimativa para o crescimento do PIB mineiro neste ano caiu de 3,3% para 1,65%, com viés de baixa. Isso porque, segundo ele, as projeções consideram apenas as operações da mineradora Vale e já é sabido que outras barragens e minas também poderão ter suas operações paralisadas. Sobre os impactos nos próximos exercícios, Roscoe admitiu que serão inevitáveis, mas que ainda não é possível precisar por quanto tempo irão se estender.
A projeção inicial da Fiemg para o desempenho do PIB do Estado considerava a contribuição positiva da atividade de extração mineral, prejudicada por fatores climáticos no primeiro trimestre do ano passado. Até outubro de 2018, a produção registrava recuo de 3,5% em relação ao mesmo período de 2017, com perspectiva de encerramento do ano em queda de 2,6%. Antes dos fatos envolvendo as barragens, as estimativas para 2019 indicavam um avanço de 9,5% da indústria extrativa em Minas Gerais.
Ainda conforme a federação das indústrias, o setor é responsável por aproximadamente 25% da produção industrial mineira e por 2,1% do PIB estadual. No entanto, exerce pressão ainda maior na cadeia produtiva. Para se ter uma ideia, a cada R$ 100 milhões a menos de receita no setor, há perdas adicionais de mais R$ 25 milhões em outros segmentos.
Diante dos números, questionado sobre a necessidade da diversificação econômica do Estado e os esforços da entidade e do governo para isso, o dirigente argumentou que não se altera uma matriz econômica de uma hora para outra. “A Fiemg tem lutado pela melhora do ambiente econômico e a consequente diversificação econômica de Minas Gerais. Mas isso vai além. A sociedade precisa entender a relevância do setor minerário e decidir por sua preservação ou não”, concluiu.
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