Realidade perversa
Cesar Vanucci*
“Quero de volta a minha vidinha simples.”
(Daiana Alberto de Moraes, moradora do povoado de Socorro, desalojada de sua casa)
Como já disse pratrasmente, cruzamos tempos danados de confusos. Espalhadas à pamparra no ar, com efeito contaminante instantâneo, as famigeradas “fakes news” incorporaram-se, inexoravelmente, à rotina de vida dos seres humanos. Bombardeando-nos implacavelmente, elas influenciam legiões incalculáveis de viventes a manterem a mente inquieta, a espinha curvada e o coração intranquilo, na arguta percepção de gente traquejada em avaliações comportamentais. Viraram uma tormentosa questão de saúde pública, de dimensão mundial. Indoutrodia, o Parlamento britânico dedicou dilargado espaço de tempo para debater a candente questão. Os pronunciamentos feitos na ocasião convergiram para o consenso de que a gravidade dos acontecimentos está a reclamar um pacto normativo universal bastante rígido com vistas ao controle do processo digital de comunicação. Denúncias de especialistas reconhecidamente qualificados dão conta que a operação das redes sociais se baseia em algoritmos centrados nos usuários, através de estudos regidos por critérios estatísticos. A partir daí são desenvolvidas técnicas de persuasão voltadas para o engajamento mais intenso possível dos frequentadores dos “whatsApps” da vida. Ficam evidenciados com solar clareza os objetivos da engrenagem montada: poder e lucro, tudo descomedido.
Em cenário mais próximo de nosso olhar, verificamos que a deletéria disseminação das “fakes news” anda disputando, renhidamente, na atenção coletiva, espaço com fatos reais infinitamente mais assustadores. Certas notícias irrompidas de repente passam, à primeira vista, a impressão de que mais “fakes” estariam sendo postas em circulação para desassossego da comunidade. Quando a gente se desgarra do susto dá de cara com desnorteante constatação: ocorrências reais de ilimitada crueldade superando longe a maldade da falsa informação.
As investigações em curso sobre o “incidente” (definição tomada emprestada ao ilustre governador do Estado Romeu Zema) de Brumadinho, revolvendo a lama da ignomínia, trouxeram à tona o atordoante informe de que muita gente foi jogada contra a parede pela alta direção da Vale. Todos viram-se intimidados com uma sufocante indagação provinda dos escalões superiores. Como é que é? Estão, ou não, dispostos a assinarem declarações atestando a estabilidade da barragem, consoante (fajutos) pareceres técnicos firmados por “especialistas”? Essa história poderia ter sido “fake”. Só que não foi…
Tem mais histórias reais por aí, que, num primeiro momento, parecem até ter sido inventadas, tal o espanto provocado.
Moradores de dezenas de localidades, povoados inteiros, desconfortavelmente plantados nas cercanias de barragens consideradas de risco, foram aconselhados a abandonar as propriedades e haveres, alojando-se – sabe-se lá por quanto tempo – em pousadas, hotéis, centros comunitários e por aí vai… Outros moradores, apoderados de justificados temores, seguiram essa mesma indesejável trajetória de um destino incerto.
Os deslocamentos são parte de medidas de precaução nascidas de uma maior consciência popular sobre os riscos dos diques de lama. Mas, as “ameaças iminentes” não existiriam, a se confiar no que asseveram os dirigentes da Vale e de outras mineradoras no foco da descomunal encrenca. Isso cria ensancha oportunosa para uma sugestão. Não seria o caso, então, de se adotar, de comum acordo com todas as partes engajadas na história, uma decisão que estipulasse a obrigatoriedade, para altos dirigentes das empresas em questão, de implantarem suas moradias na parte de baixo das “sólidas” barragens, acompanhando o mesmíssimo modelo vigente na mina do Córrego do Feijão, no tocante ao refeitório e instalações administrativas? E que tal essa exigência adicional, no sentido de que o material empregado na construção, poupando tempo e dinheiro, algo tão do agrado da turma, teria que ser de padrão idêntico ao utilizado nos alojamentos dos atletas juvenis do Centro de Treinamento do glorioso Clube de Regatas Flamengo?…
Telegraficamente registrados, alusivos ainda aos dilúvios lamacentos, aqui estão alinhados alguns outros fatos de extrema perversidade. Nenhuma das 400 barragens do Estado é segura, diz o Ibama. Em Minas, 5,6 milhões de pessoas convivem com o perigo. Estado conta com três fiscais para vigiar 435 barreiras de rejeitos. Mais de 3.000 pessoas continuam esperando (sentadas) por reparações em Mariana, três anos após a catástrofe. Minha Nossa Senhora da Abadia d’Água Suja!
Como já disse pratrasmente, cruzamos tempos danados de confusos. Espalhadas à pamparra no ar, com efeito contaminante instantâneo, as famigeradas “fakes news” incorporaram-se, inexoravelmente, à rotina de vida dos seres humanos. Bombardeando-nos implacavelmente, elas influenciam legiões incalculáveis de viventes a manterem a mente inquieta, a espinha curvada e o coração intranquilo, na arguta percepção de gente traquejada em avaliações comportamentais. Viraram uma tormentosa questão de saúde pública, de dimensão mundial. Indoutrodia, o Parlamento britânico dedicou dilargado espaço de tempo para debater a candente questão. Os pronunciamentos feitos na ocasião convergiram para o consenso de que a gravidade dos acontecimentos está a reclamar um pacto normativo universal bastante rígido com vistas ao controle do processo digital de comunicação. Denúncias de especialistas reconhecidamente qualificados dão conta que a operação das redes sociais se baseia em algoritmos centrados nos usuários, através de estudos regidos por critérios estatísticos. A partir daí são desenvolvidas técnicas de persuasão voltadas para o engajamento mais intenso possível dos frequentadores dos “whatsApps” da vida. Ficam evidenciados com solar clareza os objetivos da engrenagem montada: poder e lucro, tudo descomedido.
Em cenário mais próximo de nosso olhar, verificamos que a deletéria disseminação das “fakes news” anda disputando, renhidamente, na atenção coletiva, espaço com fatos reais infinitamente mais assustadores. Certas notícias irrompidas de repente passam, à primeira vista, a impressão de que mais “fakes” estariam sendo postas em circulação para desassossego da comunidade. Quando a gente se desgarra do susto dá de cara com desnorteante constatação: ocorrências reais de ilimitada crueldade superando longe a maldade da falsa informação.
As investigações em curso sobre o “incidente” (definição tomada emprestada ao ilustre governador do Estado Romeu Zema) de Brumadinho, revolvendo a lama da ignomínia, trouxeram à tona o atordoante informe de que muita gente foi jogada contra a parede pela alta direção da Vale. Todos viram-se intimidados com uma sufocante indagação provinda dos escalões superiores. Como é que é? Estão, ou não, dispostos a assinarem declarações atestando a estabilidade da barragem, consoante (fajutos) pareceres técnicos firmados por “especialistas”? Essa história poderia ter sido “fake”. Só que não foi…
Tem mais histórias reais por aí, que, num primeiro momento, parecem até ter sido inventadas, tal o espanto provocado.
Moradores de dezenas de localidades, povoados inteiros, desconfortavelmente plantados nas cercanias de barragens consideradas de risco, foram aconselhados a abandonar as propriedades e haveres, alojando-se – sabe-se lá por quanto tempo – em pousadas, hotéis, centros comunitários e por aí vai… Outros moradores, apoderados de justificados temores, seguiram essa mesma indesejável trajetória de um destino incerto.
Os deslocamentos são parte de medidas de precaução nascidas de uma maior consciência popular sobre os riscos dos diques de lama. Mas, as “ameaças iminentes” não existiriam, a se confiar no que asseveram os dirigentes da Vale e de outras mineradoras no foco da descomunal encrenca. Isso cria ensancha oportunosa para uma sugestão. Não seria o caso, então, de se adotar, de comum acordo com todas as partes engajadas na história, uma decisão que estipulasse a obrigatoriedade, para altos dirigentes das empresas em questão, de implantarem suas moradias na parte de baixo das “sólidas” barragens, acompanhando o mesmíssimo modelo vigente na mina do Córrego do Feijão, no tocante ao refeitório e instalações administrativas? E que tal essa exigência adicional, no sentido de que o material empregado na construção, poupando tempo e dinheiro, algo tão do agrado da turma, teria que ser de padrão idêntico ao utilizado nos alojamentos dos atletas juvenis do Centro de Treinamento do glorioso Clube de Regatas Flamengo?…
Telegraficamente registrados, alusivos ainda aos dilúvios lamacentos, aqui estão alinhados alguns outros fatos de extrema perversidade. Nenhuma das 400 barragens do Estado é segura, diz o Ibama. Em Minas, 5,6 milhões de pessoas convivem com o perigo. Estado conta com três fiscais para vigiar 435 barreiras de rejeitos. Mais de 3.000 pessoas continuam esperando (sentadas) por reparações em Mariana, três anos após a catástrofe. Minha Nossa Senhora da Abadia d’Água Suja!
- Jornalista ([email protected])
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