Será que vale o risco?

Rinaldo de Castro Oliveira*
Em março de 2015 escrevi um ensaio sobre o tema sustentabilidade na perspectiva das organizações, onde defendi que as empresas e, sobretudo, seus representantes, precisam compreender o seu papel na construção de um mundo mais equilibrado, e que a educação, especialmente a partir da formação dos mais jovens, a tecnologia, e o compromisso com o futuro são fatores-chave para avançar e encontrar novos caminhos para fazer bons negócios, hoje e amanhã. Na ocasião, argumentei que a sustentabilidade apresenta um conceito simples, mas de difícil execução: cuidar dos interesses coletivos, com visão de longo prazo, em detrimento muitas vezes dos nossos interesses imediatistas. Negócios sustentáveis são aqueles que têm a capacidade de transformar o mundo e as pessoas para melhor.
Passados alguns poucos anos, nos deparamos com tragédias sucessivas em diversos setores, que na contramão de tudo que é razoável supor, interromperam vidas, deixando para trás um rastro de destruição e perdas irreparáveis. Do ponto de vista da gestão organizacional, fica nítido que a exposição ao risco associado à ingerência das operações são fatores que culminaram para que esses eventos ocorressem, sem, com isso, descartar que outros fatores alheios à gestão dos processos possam ter influenciado.
Conceitualmente, risco é definido como sendo o efeito da incerteza nos objetivos, ou a incerteza a respeito de uma atividade e da severidade dos respectivos efeitos. Assim, o nível do risco pode ser definido como a sua magnitude, expressa em termos da combinação das consequências e das probabilidades do evento ocorrer. Portanto, é possível identificar que o risco é algo inerente a toda atividade humana e organizacional, e possui diferentes níveis de incerteza e de impacto a depender das características intrínsecas dos processos envolvidos. É razoável, também, pensar que situações que combinem alta probabilidade do evento ocorrer e elevado impacto sejam atividades críticas que requerem maior controle, gestão e capacidade de decisão na direção de se mitigar os riscos.
No entanto, os recentes e severos eventos que temos presenciado nos mostram que muito provavelmente existe um limite, uma tolerância ao risco, especialmente em casos de processos identificados como muito críticos. Por mais que os processos e as tecnologias nos permitam reduzir a incerteza e a probabilidade de um evento indesejado acontecer, determinadas condições precisam ser avaliadas pelas empresas e por seus gestores no sentido de se perguntarem se realmente vale a pena correr esse risco. Talvez uma questão, muitas vezes simples, precisa ser respondida: se o pior acontecer, quais são as consequências? A minha organização está preparada para lidar com os efeitos danosos desse impacto? A sociedade e o ambiente em geral, em seus diversos níveis, suportam a falha do meu processo?
Se a resposta para essas questões for negativa, sinalizando que os efeitos decorrentes da ocorrência de um evento inesperado podem ser muito extremos, é prudente da parte das organizações refletirem sobre as alternativas que possam melhorar a gestão dos riscos, induzindo seus gestores a decidirem por eliminar essa incerteza, seja mudando radicalmente os processos, ou até mesmo suspendendo as operações.
Decisões como essa precisam ser tomadas a tempo, com total orientação e apoio da direção e dos proprietários. Nesses momentos, mais vale a máxima do “prevenir é melhor que remediar”. Esse é um princípio básico, que muito antes de toda a discussão sobre a sustentabilidade, popularmente tem contribuído para redução de toda ordem de riscos e problemas. Que possamos praticá-lo mais.
*Sócio-diretor da DMEP
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