Opinião

[EDITORIAL] Uma voz a ser escutada

Ministro do Planejamento entre os anos de 1969 e 1979, o economista João Paulo dos Reis Velloso, falecido na semana passada aos 87 anos, deixou marcas que, além de exemplo, continuam relevantes para o País. Velloso, como poucos em nosso País, acreditou e promoveu o planejamento, no contexto maior da visão de um projeto para a construção de um futuro melhor. E construído, como ele próprio assinalava, a partir de um aproveitamento mais corajoso – e inteligente – das potencialidades e vantagens competitivas do País.

Velloso, mesmo trabalhando à margem da democracia e tendo servido à ditadura durante longo tempo, conseguiu cumprir tarefa tão importante quanto relevante, deixando marcos tão concretos quanto a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Deixou, sobretudo, a ideia de antecipar o futuro pelo exercício do planejamento, tendo como eixo a construção do desenvolvimento econômico do País. Muito ativo – e respeitado – até os últimos anos de vida, idealizador do Fórum Nacional voltado exatamente para o estudo e debate de temas centrais para o crescimento econômico, Reis Velloso, conforme depoimento de amigos próximos, mostrava- se preocupado com a falta de um projeto de longo prazo para o Brasil e sustentava que a própria ideia de desenvolvimento havia se perdido.

São questões que necessariamente vêm à tona nestes dias e primeiras semanas de uma nova administração federal, amplamente vitoriosa justamente por defender transformações que deem rumo consistente à economia nacional, recuperando sua capacidade de gerar riquezas capazes de sustentar melhores serviços públicos e garantias de melhores condições de vida para a população. Assim apresentado, ou sintetizado, um projeto que quase todos aplaudem e defendem, mas cuja execução prossegue esbarrando em interesses corporativos não alinhados com a causa comum.

Falta visão de futuro, falta planejamento e, muito provavelmente, acima de tudo, falta compromisso autêntico com as transformações reclamadas.

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Como diria Reis Velloso, falta fazer o melhor, falta a compreensão de que existem no País condições objetivas para sustentar transformações que permitam melhor aproveitamento das condições que favorecem o crescimento, desde que seja também rompido o círculo de interesses imediatistas e corporativistas que comprometem resultados e sua entrega com o necessário efeito multiplicador capaz de beneficiar o conjunto da sociedade de forma menos desigual. O legado do economista contém as respostas mas continua sendo preciso saber escutá-lo.

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